segunda-feira, 11 de junho de 2012

Entrevista: Alexandre Heredia

Alexandre Heredia
Saudações, caros leitores do Policial da Biblioteca! Véspera de Dia dos Namorados...será que há muitos enamorados entre os nossos leitores? Quem ai já comprou o presente? Um livro, claro! Só lembrem de uma coisa: digam aos vossos amores para cuidarem bem dos livros ou...bem, digamos que vou visitá-los! Agora, mudando completamente de assunto, quero dizer o nosso mais novo entrevistado é um autor de histórias de terror que conheci em minha busca pela aquisição de um novo livro, estava navegando no catálogo de livros da Tarja Editorial (parceira do blog) e me deparei com um livro que imediatamente chamou a minha atença e o que eu fiz? Comprei, obviamente! Esta foi uma das melhores compras que fiz até agora em 2012! Querem saber as razões? Leiam a resenha e comentem. Vamos saber um pouco mais sobre o entrevistado...


Quem é Alexandre Heredia?


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Alexandre Heredia
Ei, essa não é uma pergunta que se faça assim. Tenha um pouco de educação. Há controvérsias, nenhuma delas endossada pelo próprio. A única coisa válida que se sabe é que o pouco que se sabe não vale nada.

Livros (clicando nos títulos vocês serão direcionados para a página de compra dos livros):
Mecanismos Precários (com um conto), Predadores (autor), Emboscada, (autor), O Legado de Bathory (autor), Imaginários 2 (com um conto), Visões de São Paulo (com um conto), Necrópole - Histórias de Bruxaria (com um conto), Necrópole - Histórias de Fantasmas (com um conto), Necrópole - Histórias de Vampiros (com um conto), Le Monde Bizarre (com um conto),  Paradigmas Definitivos (com um conto - livro que teve lançamento no dia 02/06 pela Tarja Editorial).

Fonte (blog do Alexandre Heredia): Gardenal com Fanta Uva.

Os seguintes livros tem resenha aqui no Policial da Biblioteca:
Entrevista:

Alexandre, quero agradecer por conceder esta entrevista ao Policial da Biblioteca. É sempre muito gratificante poder dialogar com escritores de talento e sinto que quando este autor em questão é brasileiro ficamos ainda mais alegres, pois estamos apoiando algo que germinou em nosso próprio país e assim também incentivamos o surgimento de novos escritores. Sinta-se à vontade aqui no Policial da Biblioteca, puxe uma cadeira, aceita alguma bebida? Podemos começar a entrevista?

Então, vamos lá...

1 – Primeiro gostaria que nos explicasse como surgiu “Predadores”? Como essa obra nasceu em sua mente?
A decisão de sentar e escrever este livro em particular não nasceu de uma história que surgiu em minha cabeça, vinda de uma inspiração repentina, nem de uma compulsão irrefreável. Nada disso. Ele surgiu de uma mera necessidade egomaníaca. De uma aposta pessoal. Eu já escrevia como amador há mais de dez anos. Já tinha até mesmo me arriscado a escrever um livro (felizmente nunca publicado). Escrever profissionalmente começava a se tornar um objetivo, mas distante ainda. Daí, certo dia, assisti ao pavoroso filme “Vampiros do Deserto” e disse a mim mesmo: Como uma história tão ruim tinha conseguido sair do papel? Até eu conseguiria escrever algo melhor que aquilo. E daí me perguntei: por que não escrevo então? Uma história que trouxesse o mito dos vampiros ao tempo atual, mas ao mesmo tempo remetendo à origem do arquétipo, e do que inspirou sua criação. Surgiu daí a premissa: não seria uma história de vampiros. Seria uma história de ambição humana, de decadência moral frente às adversidades. E tudo isso manipulado por uma pessoa cuja fisiologia e atitudes remetessem ao mito do vampiro. O importante na história não é descobrir se há ou não um vampiro, mas o que somos capazes de fazer para satisfazer nossos desejos e vontades. Seria uma história sobre humanos, não criaturas mitológicas. É por este motivo que, mesmo havendo apenas um “antagonista” (aspas intencionais) na história, ela se chama “Predadores”, assim mesmo, no plural.

2 – Um personagem com o qual me identifiquei muito foi o Dante, um repórter que ao longo do livro vai cada vez mais mergulhando nos mistérios que envolvem a história e assim como seu xará escritor (Dante Alighieri) acaba percebendo que a sua viagem foi em direção a perceber que o mundo pode ser um lugar verdadeiramente envolvido por trevas que estão além de nossa compreensão. Esse ponto me recordou bastante o estilo de Lovecraft, onde os personagens saem do conforto-ignorância e alcançam a inquietação-sapiência, mas ao custo de parcelas de suas sanidades. Queria que você comentasse se houve figuras (escritores ou outros artistas) nos quais buscou inspiração para realizar este livro.
O processo de criação dos personagens para o livro levou em conta uma série de fatores, na maioria narrativos, mas muitos vieram de referências pessoais. A referência a Dante Alighieri é a mais óbvia de todas, claro, mas todos os personagens nasceram de um misto de características e referências, algumas do meio artístico e literário, mas muitas de pessoas que conheço e convivo. Não houve uma referência única para a criação de Dante, nem qualquer um dos outros personagens. Ian é o representante de uma geração em crise, que questiona os valores de liberdade e de família, mesmo que isso signifique abrir mão de um para ter o outro. Eva é uma aproveitadora, esperta e inescrupulosa, mas também é uma sobrevivente, uma lutadora. Já Dante coleciona frustrações, devido a um espírito contestador que é castrado por uma mãe traumatizada e uma noiva provinciana. Pessoas normais, realidades não muito distantes da média. A intenção desde o princípio foi esta, de colocar pessoas reais em uma situação extrema, para que seus limites morais fossem testados. O que sempre quis deixar para o leitor era fazê-lo se questionar: Se eu estivesse numa situação semelhante, agiria diferente? Este é o mote do livro e o que me guiou na criação de todos os personagens.

3 – Na página 70 de “Predadores” quando Ian diz que, caso um dia Radu desistisse de trabalhar com casas noturnas, poderia se dar muito bem no mercado artístico, Radu replica dizendo que se fosse obrigado a tirar seu sustento da arte a inspiração desapareceria e que prefere mantê-la com um hobby. O que nós gostaríamos de saber é: Você divide esta perspectiva com o seu personagem? Como você encara seu trabalho artístico?
Cara, quem não gostaria de viver da própria arte? Ganhar o suficiente com a sua produção artística para sobreviver, sem precisar se sujeitar a um escritório, a um chefe, a resolver problemas que não são seus. Eu certamente gostaria, e minha inspiração não diminuiria com isso, posso garantir. Mas aqui cabe separar dois conceitos importantes: a Arte e o Trabalho. Um depende dessa tal Inspiração. O outro não pode se dar ao luxo de ficar esperando ela aparecer para produzir. Caso ela não apareça, não trabalhamos. E se paramos de trabalhar, em nosso mundo capitalista, é certo que morreremos de fome. Custo de vida demanda produção ininterrupta. Para viver da arte, muitas vezes é preciso deixar a arte de lado. O que Radu quis dizer é que ele não tinha a necessidade de fazer esta concessão, visto que ele tinha meios de sobra para sobreviver e ao mesmo tempo manter sua “integridade artística” (seja lá o que isso signifique) e apenas produzir o que tivesse vontade. É a situação ideal, e duvido que alguém que a alcançasse conseguiria se contentar com menos que isso. Não é a minha realidade. Hoje, apesar de já tratar o ofício literário como uma atividade profissional, não tiro meu sustento dele. Na realidade brasileira este é o cenário mais comum. Escritores, artistas em geral, tem empregos que muitas vezes nada tem a ver com sua arte. Porque, como já se sabe, viver de cultura em nosso país não é fácil. Ser artista no Brasil é ser um guerreiro. Ou, no caso, um predador.

4 – Como surgiu a vontade de ser escritor?
Meu primeiro conto não nasceu com essa intenção. Eu era um garoto, de dezesseis anos, que tinha acabado de levar um pé na bunda de uma namorada. Fiquei tão arrasado quanto qualquer adolescente nessa situação fica, e nem sei bem por qual motivo decidi escrever uma carta de suicídio. Não que eu tivesse essa vontade (calma, mãe), só decidi que iria descrever o que eu estava sentindo, e ao mesmo tempo usar aquele sentimento destrutivo pra criar alguma coisa. Qualquer coisa. Mas não queria assustar ninguém, então decidi escrever a carta de suicídio de outra pessoa, com uma história bem diferente da minha. Uma tragédia alheia. Escrevi uma longa, prolixa e piegas carta. Passei alguns dias voltando a ela, corrigindo aqui e ali, mexendo nas frases, nos sentimentos que eu queria transparecer. Lapidei-a até que ela conseguisse refletir exatamente o que eu havia sentido, mas sem me envolver diretamente. Terminada a carta mostrei a alguns amigos. Coletei meus primeiros elogios. Uma menina chegou a chorar. Outra amiga levou uma cópia para sua mãe, atendente do CVV (Centro de Valorização da Vida), e me contou que ela também havia chorado ao ler. Percebi que eu tinha feito alguma coisa interessante, que eu havia criado uma história que tocou as pessoas, que as fizeram sentir o que eu havia sentido. Apaixonei-me por aquela sensação na hora, e a partir daí não parei mais. Escrever se tornou parte de mim, parte de minha vida. Costumo dizer que um bom escritor escreve 24hs por dia, mesmo que só digite às vezes. Digo isso, pois sou assim. Procuro histórias em todo cenário que passo, toda cena que testemunho, todo diálogo que ouço, toda manchete que leio. E escrevo para ser lido, para dialogar com meus leitores através de uma história que não é a minha, mas que fui eu quem criou.

5 – No livro percebi que você usou de muitos simbolismos para descrever os cenários. Por exemplo: a área VIP da Vrykolakas não possui paredes, o que nos remete a ideia de um lugar sem restrições ou coisas a serem escondidas e isso parece refletir bem o conceito do predador, pessoas sem limites para buscar seus desejos e com mentes acima da média, de Radu. Tenho uma amiga formada em Decoração de Interiores e já conversei com ela sobre a questão de aliar um conceito a decoração de um ambiente e percebo que é isso justamente o que acontece em seu livro. Você realizou alguma pesquisa para isso ou foi algo que se formou naturalmente no decorrer da escrita?
Não diria tanto uma pesquisa, mas mais uma intenção. Gosto destes simbolismos, dessa construção do ambiente com o intuito de contar uma história. Toda descrição deve possuir o objetivo de enriquecer a trama. No caso de Predadores temos três pontos de vista intercalados: Dante, Ian e Eva. Cada um deles com uma biografia e “filtros” visuais próprios. Então um detalhe que chamou a atenção de Ian em certo momento talvez passasse despercebido caso o foco narrativo estivesse em Dante ou em Eva. Neste aspecto era importantíssimo que os cenários por onde cada personagem transitasse criasse algum tipo de sentimento ou mesmo contexto específico. A área VIP do Vrykolakas não possui paredes, pois paredes representam limites, e aquelas são pessoas que estabelecem seus próprios limites. Da mesma maneira que o apartamento de Eva diz muito a respeito dela e de sua atitude. Ou o apartamento de Ian, ou seu escritório. Dante sai de seu ambiente conhecido e cai em um “mato sem cachorro”. Tudo é intencional. Nada do que é descrito é ao acaso.

6 – Pelo que averiguei “Predadores” e “Emboscada” formam uma única história, enquanto que “O Legado de Bathory” é uma história que se passa antes mesmo de “Predadores”, mas que pelo que vi parece estar ligada a história dos outros dois livros. Estou certo? Por enquanto só li “Predadores”, mas confesso que achei incrível como você conseguiu desenvolver a figura enigmática de Radu tanto a ponto de me fazer querer logo o “Emboscada”. Você pretende escrever outro livro ainda narrando eventos com personagens de “Predadores”? Ainda não sei o que acontece em “Emboscada”.
A intenção desde o começo ao escrever Predadores era que fosse um livro único, com uma história fechada e uma trama autossuficiente. Mas sua realização demandou uma grande pesquisa a respeito do mito do vampiro e de seus personagens. Foi neste momento que tive contato com a história da Condessa Bathory, que ganhou a fama por ser considerada uma das mais prolíficas assassinas de todos os tempos. Lembro-me de me apaixonar por aquela história, e deixar o material guardado para futura referência. A “doença” que retrato em Predadores é em grande parte inspirada nas características atribuídas à condessa em seus rituais. Então, após terminar de escrever Predadores, dediquei-me a estudar mais e mais aquela história. Fiz uma pesquisa intensa a seu respeito. Só a pesquisa me tomou os dois anos seguintes. Quando decidi sentar para escrever quis relacionar a história da condessa com os fatos narrados em Predadores, visto que ela tinha surgido durante aquela pesquisa. Seria uma história de origens, mas independente. Sua trama serviria tanto para complementar o universo estabelecido em Predadores quanto para estabelecer uma cronologia para os fatos. Durante esse tempo comecei a receber as primeiras leituras de Predadores (leituras beta, pois o livro não havia sido publicado ainda) e todas elas clamavam por uma continuação. Muitas pontas soltas. Não havia uma sensação clara de conclusão, de resolução. Tentei argumentar que essa era mesmo a intenção, que algumas coisas não se resolveriam, mas com o tempo passei a concordar com essas observações. Assim, anos depois, retornei ao universo que havia criado e escrevi uma continuação. Confesso que foi uma delícia reencontrar aqueles personagens. Desenvolvi uma trama que, mesmo funcionando de forma independente, dava um tipo de conclusão a alguns pontos estabelecidos em Predadores. Não todos, mas os mais importantes. Há espaço para mais histórias, claro, mas ainda não tenho intenção de escrevê-las. Não digo nunca, pois são personagens que me são muito caros, mas no momento estou focado em outras histórias e temas.

7 – Achei muito legal você dividir o livro inicialmente em dois focos (os acontecimentos em São Paulo na Vrykolakas e os de Mauá. Caros leitores, não darei detalhes para não soltar spoiler) e queria saber se você pretende escrever uma prequel dos eventos de “Predadores”. Acho que a dupla Dante e Jonas, os moderadores do site Inquisidor (site voltado para investigação de supostos fenômenos paranormais), poderia protagonizar um livro interessante.
Confesso que nunca havia cogitado esta ideia. É bem interessante, mas tenho certo receio em histórias que tentam explicar demais. Dante e Jonas tinham uma química interessante entre eles, e acho que seria muito divertido narrar suas desventuras, mas não tenho nenhuma intenção, neste momento, de tomar esse caminho. Estou muito envolvido em uma outra história, um outro universo, para criar algo assim. Toda a “trilogia” tomou cerca de seis anos para sua realização. É hora de mudar um pouco de assunto. Mas, como disse na pergunta anterior, não digo que nunca irei fazer. Só não tenho planos para isso no momento.

8 – Pegando um gancho na pergunta anterior, queria saber se você pode nos contar um pouco sobre seus próximos planos na escrita. Há algum livro a caminho? Por favor, sacie a nossa curiosidade.
Estou sempre escrevendo alguma coisa. Contos, crônicas, romances. Alguns destes trabalhos são publicados em antologias e coletâneas, a maioria permanece inédita. Este ano participei como autor convidado das coletâneas “Le Monde Bizarre – O Circo dos Horrores”, pela Editora Estronho, e “Paradigmas Definitivos”, pela Tarja Editorial. Em breve lançarei duas antologias com meus contos. Enquanto isso estou trabalhando em um novo romance, que lida com a temática de extremismo religioso, que pretendo finalizar ainda este ano (estou trabalhando nele desde 2009). Paralelamente a isso criei um método voltado à criação e produção de textos, adaptado de uma metodologia de desenvolvimento de projetos de informática. De posse deste método, me juntei ao escritor Fernando de F. L. Torres e criamos um curso, a Usina de Criação e Produção Literária, que se iniciará com uma aula aberta com o escritor Ricardo Lisias no dia 01/08/2012, no espaço Mundo Mundano, cujas inscrições já estão abertas. O curso é voltado tanto para escritores como para aspirantes, desde que tenham interesse em tornar sua produção o mais profissional possível, e terá a duração de três meses. Ao final os participantes integrarão uma coletânea com os textos produzidos nela.

9 – Por último quero ceder um espaço para que você deixe algum recado para os seus fãs, familiares, bichos de estimação ou qualquer ser com consciência.
Quero agradecer não apenas pela interessante entrevista, mas também pela resenha feita para Predadores. Como mencionei no Twitter (@AleHeredia) é um prazer saber que sua obra não foi apenas lida, mas também compreendida. Quando sentamos para escrever levamos horas e horas de planejamento, criação e incontáveis revisões apenas com o intuito de transmitir algo para um leitor hipotético. E ver essa hipótese se concretizar é a culminação de todo esse trabalho. Assim gostaria de estender esse agradecimento a todos os meus leitores, aqueles que compreendem meu trabalho e que me fazem cada dia querer surpreendê-los novamente.

Abraços, Alexandre! Sucesso para você, camarada. A porta no Policial da Biblioteca sempre estará aberta para você e muito obrigado mesmo por doar um pouco do seu tempo para essa entrevista.
Eu que agradeço pela oportunidade. E aguardo ansioso pelas próximas resenhas.

Uma entrevista sensacional! Gostei muito e vocês, leitores? Abraços à todos e até outro momento.

2 comentários:

  1. Parabéns ao Alexandre Heredia... Mandou bem!

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    1. Sim, em "Predadores" pude constatar o seu talento como escritor e na entrevista pude perceber o quanto ele é uma pessoa legal, ou seja, merece o sucesso que faz e sempre que quiser as portas do Policial da Biblioteca estarão abertas.

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