Alexandre Heredia |
Saudações, caros leitores do Policial da Biblioteca! Véspera de Dia dos Namorados...será que há muitos enamorados entre os nossos leitores? Quem ai já comprou o presente? Um livro, claro! Só lembrem de uma coisa: digam aos vossos amores para cuidarem bem dos livros ou...bem, digamos que vou visitá-los! Agora, mudando completamente de assunto, quero dizer o nosso mais novo entrevistado é um autor de histórias de terror que conheci em minha busca pela aquisição de um novo livro, estava navegando no catálogo de livros da Tarja Editorial (parceira do blog) e me deparei com um livro que imediatamente chamou a minha atença e o que eu fiz? Comprei, obviamente! Esta foi uma das melhores compras que fiz até agora em 2012! Querem saber as razões? Leiam a resenha e comentem. Vamos saber um pouco mais sobre o entrevistado...
Quem é Alexandre Heredia?
Alexandre Heredia |
Ei, essa
não é uma pergunta que se faça assim. Tenha um pouco de educação. Há controvérsias, nenhuma delas endossada pelo próprio. A
única coisa válida que se sabe é que o pouco que se sabe não vale nada.
Livros (clicando nos títulos vocês serão direcionados para a página de compra dos livros):
Mecanismos Precários (com um conto), Predadores (autor), Emboscada, (autor), O Legado de Bathory (autor), Imaginários 2 (com um conto), Visões de São Paulo (com um conto), Necrópole - Histórias de Bruxaria (com um conto), Necrópole - Histórias de Fantasmas (com um conto), Necrópole - Histórias de Vampiros (com um conto), Le Monde Bizarre (com um conto), Paradigmas Definitivos (com um conto - livro que teve lançamento no dia 02/06 pela Tarja Editorial).
Fonte (blog do Alexandre Heredia): Gardenal com Fanta Uva.
Os seguintes livros tem resenha aqui no Policial da Biblioteca:
Entrevista:
Alexandre, quero agradecer por conceder esta entrevista ao Policial da Biblioteca. É sempre muito gratificante poder dialogar com escritores de talento e sinto que quando este autor em questão é brasileiro ficamos ainda mais alegres, pois estamos apoiando algo que germinou em nosso próprio país e assim também incentivamos o surgimento de novos escritores. Sinta-se à vontade aqui no Policial da Biblioteca, puxe uma cadeira, aceita alguma bebida? Podemos começar a entrevista?
Então, vamos lá...
1 – Primeiro gostaria que nos
explicasse como surgiu “Predadores”? Como essa obra nasceu em sua mente?
A
decisão de sentar e escrever este livro em particular não nasceu de uma
história que surgiu em minha cabeça, vinda de uma inspiração repentina, nem de
uma compulsão irrefreável. Nada disso. Ele surgiu de uma mera necessidade
egomaníaca. De uma aposta pessoal. Eu já escrevia como amador há mais de dez
anos. Já tinha até mesmo me arriscado a escrever um livro (felizmente nunca
publicado). Escrever profissionalmente começava a se tornar um objetivo, mas
distante ainda. Daí, certo dia, assisti ao pavoroso filme “Vampiros do Deserto”
e disse a mim mesmo: Como uma história tão ruim tinha conseguido sair do papel?
Até eu conseguiria escrever algo melhor que aquilo. E daí me perguntei: por que
não escrevo então? Uma história que trouxesse o mito dos vampiros ao tempo
atual, mas ao mesmo tempo remetendo à origem do arquétipo, e do que inspirou
sua criação. Surgiu daí a premissa: não seria uma história de vampiros. Seria
uma história de ambição humana, de decadência moral frente às adversidades. E
tudo isso manipulado por uma pessoa cuja fisiologia e atitudes remetessem ao
mito do vampiro. O importante na história não é descobrir se há ou não um
vampiro, mas o que somos capazes de fazer para satisfazer nossos desejos e
vontades. Seria uma história sobre humanos, não criaturas mitológicas. É por
este motivo que, mesmo havendo apenas um “antagonista” (aspas intencionais) na
história, ela se chama “Predadores”, assim mesmo, no plural.
2 – Um personagem com o qual me
identifiquei muito foi o Dante, um repórter que ao longo do livro vai cada vez
mais mergulhando nos mistérios que envolvem a história e assim como seu xará
escritor (Dante Alighieri) acaba percebendo que a sua viagem foi em direção a
perceber que o mundo pode ser um lugar verdadeiramente envolvido por trevas que
estão além de nossa compreensão. Esse ponto me recordou bastante o estilo de
Lovecraft, onde os personagens saem do conforto-ignorância e alcançam a
inquietação-sapiência, mas ao custo de parcelas de suas sanidades. Queria que
você comentasse se houve figuras (escritores ou outros artistas) nos quais
buscou inspiração para realizar este livro.
O
processo de criação dos personagens para o livro levou em conta uma série de
fatores, na maioria narrativos, mas muitos vieram de referências pessoais. A
referência a Dante Alighieri é a mais óbvia de todas, claro, mas todos os
personagens nasceram de um misto de características e referências, algumas do
meio artístico e literário, mas muitas de pessoas que conheço e convivo. Não
houve uma referência única para a criação de Dante, nem qualquer um dos outros
personagens. Ian é o representante de uma geração em crise, que questiona os
valores de liberdade e de família, mesmo que isso signifique abrir mão de um
para ter o outro. Eva é uma aproveitadora, esperta e inescrupulosa, mas também
é uma sobrevivente, uma lutadora. Já Dante coleciona frustrações, devido a um
espírito contestador que é castrado por uma mãe traumatizada e uma noiva
provinciana. Pessoas normais, realidades não muito distantes da média. A
intenção desde o princípio foi esta, de colocar pessoas reais em uma situação
extrema, para que seus limites morais fossem testados. O que sempre quis deixar
para o leitor era fazê-lo se questionar: Se eu estivesse numa situação
semelhante, agiria diferente? Este é o mote do livro e o que me guiou na
criação de todos os personagens.
3 – Na página 70 de “Predadores”
quando Ian diz que, caso um dia Radu desistisse de trabalhar com casas
noturnas, poderia se dar muito bem no mercado artístico, Radu replica dizendo
que se fosse obrigado a tirar seu sustento da arte a inspiração desapareceria e
que prefere mantê-la com um hobby. O que nós gostaríamos de saber é: Você
divide esta perspectiva com o seu personagem? Como você encara seu trabalho
artístico?
Cara,
quem não gostaria de viver da própria arte? Ganhar o suficiente com a sua
produção artística para sobreviver, sem precisar se sujeitar a um escritório, a
um chefe, a resolver problemas que não são seus. Eu certamente gostaria, e
minha inspiração não diminuiria com isso, posso garantir. Mas aqui cabe separar
dois conceitos importantes: a Arte e o Trabalho. Um depende dessa tal
Inspiração. O outro não pode se dar ao luxo de ficar esperando ela aparecer
para produzir. Caso ela não apareça, não trabalhamos. E se paramos de
trabalhar, em nosso mundo capitalista, é certo que morreremos de fome. Custo de
vida demanda produção ininterrupta. Para viver da arte, muitas vezes é preciso
deixar a arte de lado. O que Radu quis dizer é que ele não tinha a necessidade
de fazer esta concessão, visto que ele tinha meios de sobra para sobreviver e
ao mesmo tempo manter sua “integridade artística” (seja lá o que isso
signifique) e apenas produzir o que tivesse vontade. É a situação ideal, e
duvido que alguém que a alcançasse conseguiria se contentar com menos que isso.
Não é a minha realidade. Hoje, apesar de já tratar o ofício literário como uma
atividade profissional, não tiro meu sustento dele. Na realidade brasileira
este é o cenário mais comum. Escritores, artistas em geral, tem empregos que
muitas vezes nada tem a ver com sua arte. Porque, como já se sabe, viver de
cultura em nosso país não é fácil. Ser artista no Brasil é ser um guerreiro.
Ou, no caso, um predador.
4 – Como surgiu a vontade de ser
escritor?
Meu
primeiro conto não nasceu com essa intenção. Eu era um garoto, de dezesseis
anos, que tinha acabado de levar um pé na bunda de uma namorada. Fiquei tão
arrasado quanto qualquer adolescente nessa situação fica, e nem sei bem por
qual motivo decidi escrever uma carta de suicídio. Não que eu tivesse essa
vontade (calma, mãe), só decidi que iria descrever o que eu estava sentindo, e
ao mesmo tempo usar aquele sentimento destrutivo pra criar alguma coisa.
Qualquer coisa. Mas não queria assustar ninguém, então decidi escrever a carta
de suicídio de outra pessoa, com uma história bem diferente da minha. Uma
tragédia alheia. Escrevi uma longa, prolixa e piegas carta. Passei alguns dias
voltando a ela, corrigindo aqui e ali, mexendo nas frases, nos sentimentos que
eu queria transparecer. Lapidei-a até que ela conseguisse refletir exatamente o
que eu havia sentido, mas sem me envolver diretamente. Terminada a carta
mostrei a alguns amigos. Coletei meus primeiros elogios. Uma menina chegou a
chorar. Outra amiga levou uma cópia para sua mãe, atendente do CVV (Centro de
Valorização da Vida), e me contou que ela também havia chorado ao ler. Percebi
que eu tinha feito alguma coisa interessante, que eu havia criado uma história
que tocou as pessoas, que as fizeram sentir o que eu havia sentido.
Apaixonei-me por aquela sensação na hora, e a partir daí não parei mais.
Escrever se tornou parte de mim, parte de minha vida. Costumo dizer que um bom
escritor escreve 24hs por dia, mesmo que só digite às vezes. Digo isso, pois
sou assim. Procuro histórias em todo cenário que passo, toda cena que
testemunho, todo diálogo que ouço, toda manchete que leio. E escrevo para ser
lido, para dialogar com meus leitores através de uma história que não é a
minha, mas que fui eu quem criou.
5 – No livro percebi que você usou
de muitos simbolismos para descrever os cenários. Por exemplo: a área VIP da Vrykolakas não possui paredes, o que nos
remete a ideia de um lugar sem restrições ou coisas a serem escondidas e isso
parece refletir bem o conceito do predador, pessoas sem limites para buscar
seus desejos e com mentes acima da média, de Radu. Tenho uma amiga formada em
Decoração de Interiores e já conversei com ela sobre a questão de aliar um
conceito a decoração de um ambiente e percebo que é isso justamente o que
acontece em seu livro. Você realizou alguma pesquisa para isso ou foi algo que
se formou naturalmente no decorrer da escrita?
Não
diria tanto uma pesquisa, mas mais uma intenção. Gosto destes simbolismos,
dessa construção do ambiente com o intuito de contar uma história. Toda
descrição deve possuir o objetivo de enriquecer a trama. No caso de Predadores
temos três pontos de vista intercalados: Dante, Ian e Eva. Cada um deles com uma
biografia e “filtros” visuais próprios. Então um detalhe que chamou a atenção
de Ian em certo momento talvez passasse despercebido caso o foco narrativo
estivesse em Dante ou em Eva. Neste aspecto era importantíssimo que os cenários
por onde cada personagem transitasse criasse algum tipo de sentimento ou mesmo
contexto específico. A área VIP do Vrykolakas não possui paredes, pois paredes
representam limites, e aquelas são pessoas que estabelecem seus próprios
limites. Da mesma maneira que o apartamento de Eva diz muito a respeito dela e
de sua atitude. Ou o apartamento de Ian, ou seu escritório. Dante sai de seu
ambiente conhecido e cai em um “mato sem cachorro”. Tudo é intencional. Nada do
que é descrito é ao acaso.
6 – Pelo que averiguei “Predadores”
e “Emboscada” formam uma única história, enquanto que “O Legado de Bathory” é
uma história que se passa antes mesmo de “Predadores”, mas que pelo que vi
parece estar ligada a história dos outros dois livros. Estou certo? Por
enquanto só li “Predadores”, mas confesso que achei incrível como você
conseguiu desenvolver a figura enigmática de Radu tanto a ponto de me fazer
querer logo o “Emboscada”. Você pretende escrever outro livro ainda narrando
eventos com personagens de “Predadores”? Ainda não sei o que acontece em
“Emboscada”.
A
intenção desde o começo ao escrever Predadores era que fosse um livro único,
com uma história fechada e uma trama autossuficiente. Mas sua realização
demandou uma grande pesquisa a respeito do mito do vampiro e de seus
personagens. Foi neste momento que tive contato com a história da Condessa
Bathory, que ganhou a fama por ser considerada uma das mais prolíficas
assassinas de todos os tempos. Lembro-me de me apaixonar por aquela história, e
deixar o material guardado para futura referência. A “doença” que retrato em
Predadores é em grande parte inspirada nas características atribuídas à
condessa em seus rituais. Então, após terminar de escrever Predadores,
dediquei-me a estudar mais e mais aquela história. Fiz uma pesquisa intensa a seu
respeito. Só a pesquisa me tomou os dois anos seguintes. Quando decidi sentar
para escrever quis relacionar a história da condessa com os fatos narrados em
Predadores, visto que ela tinha surgido durante aquela pesquisa. Seria uma
história de origens, mas independente. Sua trama serviria tanto para
complementar o universo estabelecido em Predadores quanto para estabelecer uma
cronologia para os fatos. Durante esse tempo comecei a receber as primeiras
leituras de Predadores (leituras beta, pois o livro não havia sido publicado
ainda) e todas elas clamavam por uma continuação. Muitas pontas soltas. Não
havia uma sensação clara de conclusão, de resolução. Tentei argumentar que essa
era mesmo a intenção, que algumas coisas não se resolveriam, mas com o tempo
passei a concordar com essas observações. Assim, anos depois, retornei ao
universo que havia criado e escrevi uma continuação. Confesso que foi uma
delícia reencontrar aqueles personagens. Desenvolvi uma trama que, mesmo
funcionando de forma independente, dava um tipo de conclusão a alguns pontos
estabelecidos em Predadores. Não todos, mas os mais importantes. Há espaço para
mais histórias, claro, mas ainda não tenho intenção de escrevê-las. Não digo
nunca, pois são personagens que me são muito caros, mas no momento estou focado
em outras histórias e temas.
7 – Achei muito legal você dividir
o livro inicialmente em dois focos (os acontecimentos em São Paulo na Vrykolakas e os de Mauá. Caros leitores,
não darei detalhes para não soltar spoiler) e queria saber se você pretende
escrever uma prequel dos eventos de “Predadores”. Acho que a dupla Dante e
Jonas, os moderadores do site Inquisidor (site voltado para investigação de
supostos fenômenos paranormais), poderia protagonizar um livro interessante.
Confesso
que nunca havia cogitado esta ideia. É bem interessante, mas tenho certo receio
em histórias que tentam explicar demais. Dante e Jonas tinham uma química
interessante entre eles, e acho que seria muito divertido narrar suas
desventuras, mas não tenho nenhuma intenção, neste momento, de tomar esse
caminho. Estou muito envolvido em uma outra história, um outro universo, para
criar algo assim. Toda a “trilogia” tomou cerca de seis anos para sua
realização. É hora de mudar um pouco de assunto. Mas, como disse na pergunta
anterior, não digo que nunca irei fazer. Só não tenho planos para isso no
momento.
8 – Pegando um gancho na pergunta
anterior, queria saber se você pode nos contar um pouco sobre seus próximos
planos na escrita. Há algum livro a caminho? Por favor, sacie a nossa
curiosidade.
Estou
sempre escrevendo alguma coisa. Contos, crônicas, romances. Alguns destes
trabalhos são publicados em antologias e coletâneas, a maioria permanece
inédita. Este ano participei como autor convidado das coletâneas “Le Monde
Bizarre – O Circo dos Horrores”, pela Editora Estronho, e “Paradigmas
Definitivos”, pela Tarja Editorial. Em breve lançarei duas antologias com meus
contos. Enquanto isso estou trabalhando em um novo romance, que lida com a
temática de extremismo religioso, que pretendo finalizar ainda este ano (estou
trabalhando nele desde 2009). Paralelamente a isso criei um método voltado à
criação e produção de textos, adaptado de uma metodologia de desenvolvimento de
projetos de informática. De posse deste método, me juntei ao escritor Fernando
de F. L. Torres e criamos um curso, a Usina de Criação e Produção Literária,
que se iniciará com uma aula aberta com o escritor Ricardo Lisias no dia
01/08/2012, no espaço Mundo Mundano, cujas inscrições já estão abertas. O curso é
voltado tanto para escritores como para aspirantes, desde que tenham interesse
em tornar sua produção o mais profissional possível, e terá a duração de três
meses. Ao final os participantes integrarão uma coletânea com os textos
produzidos nela.
9 – Por último quero ceder um
espaço para que você deixe algum recado para os seus fãs, familiares, bichos de
estimação ou qualquer ser com consciência.
Quero
agradecer não apenas pela interessante entrevista, mas também pela resenha
feita para Predadores. Como mencionei no Twitter (@AleHeredia) é um prazer
saber que sua obra não foi apenas lida, mas também compreendida. Quando
sentamos para escrever levamos horas e horas de planejamento, criação e
incontáveis revisões apenas com o intuito de transmitir algo para um leitor
hipotético. E ver essa hipótese se concretizar é a culminação de todo esse
trabalho. Assim gostaria de estender esse agradecimento a todos os meus
leitores, aqueles que compreendem meu trabalho e que me fazem cada dia querer
surpreendê-los novamente.
Abraços, Alexandre! Sucesso para
você, camarada. A porta no Policial da Biblioteca sempre estará aberta para
você e muito obrigado mesmo por doar um pouco do seu tempo para essa
entrevista.
Eu
que agradeço pela oportunidade. E aguardo ansioso pelas próximas resenhas.
Uma entrevista sensacional! Gostei muito e vocês, leitores? Abraços à todos e até outro momento.
Parabéns ao Alexandre Heredia... Mandou bem!
ResponderExcluirSim, em "Predadores" pude constatar o seu talento como escritor e na entrevista pude perceber o quanto ele é uma pessoa legal, ou seja, merece o sucesso que faz e sempre que quiser as portas do Policial da Biblioteca estarão abertas.
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