Felipe Colbert |
Saudações, caríssimos leitores do Policial da Biblioteca! Como vocês sabem, recentemente resenhei o livro "Ponto Cego" do escritor Felipe Colbert. Esta obra se firmou como uma das boas surpresas literárias que tive esse ano e confirmei absolutamente todos os elogios ao livro que li ou ouvi em diversos blogs. Pensando nos leitores que também leram a resenha ou já ouviram falar do livro e tem curiosidade em conhecer mais o autor, resolvi entrevistá-lo e espero que vocês também apreciem este bate-papo.
Antes
de tudo quero lhe dar meus parabéns pelo livro, acredite, mesmo eu sendo fã de
suspense, não é qualquer obra que recebe elogios de mim. Agora quero lhe dar um
bom dia ou deveria ser um buongiorno? Confesso que lia as palavras em italiano
com sotaque ou pelo menos tentava. Agora, sem mais demoras, vamos às perguntas,
sei o quanto você é um profissional ocupado, acompanho a sua saga pelo twitter.
Muito
obrigado, Ednelson. Fico muito feliz com a notícia! ;)
1
– Felipe, primeiro gostaria de saber como foi a experiência de lançar o livro
“Ponto Cego” primeiro em Portugal? Percebeu alguma diferença entre o mercado
editorial de lá e o daqui? Qual o motivo disto?
O mercado exterior, principalmente o Europeu, está mais atento aos
autores brasileiros. Acredito que seja porque, infelizmente, essas nações estão
passando por uma crise econômica e uma crise criativa ao mesmo tempo. Nestes
dois âmbitos, o Brasil está muito bem, chamando a atenção. O profissionalismo
chegou por aqui e se instalou. Se fosse há uns 10 ou 20 anos atrás, seria muito
difícil rompermos esta barreira. Incrivelmente, hoje ela está sendo rompida de
fora para dentro. Quer um exemplo? A Feira do Livro de Frankfurt, o maior
encontro editorial do setor e que ocorrerá em 2013, terá como tema central a
literatura brasileira! Que autor precisa de mais oportunidades do que essa?
2
– O suspense é um gênero que sempre chama atenção, pois muitos de nós sempre
estamos nos questionando acerca da natureza do mal, não necessariamente a
partir de um ponto de vista teológico, portanto, gostaria de saber qual foi o
motivo para você escolher especificamente o tema dos filmes snuff?
Quando eu estive em Veneza, ainda não tinha a história formada na
minha cabeça. Na verdade, foi andando pela cidade que percebi que ali poderia
nascer uma boa trama. Eu costumo incluir muitos elementos diferentes nas minhas
histórias. O caso do snuff é apenas mais uma dificuldade excepcional pela qual
os personagens passam durante a solução de seus problemas. Eu já tinha lido e
escutado falar muito sobre filmes snuff. É um tema que, embora seja repulsivo,
gera muita curiosidade por parte das pessoas. Alguns ainda tratam como “Lenda Urbana”.
Outros, como fato comprovado. Mas o que importa para um autor profissional é
saber que uma boa trama se faz com personagens excepcionais, passando por
dificuldades excepcionais, até chegarem a um final excepcional. E foi isso que
eu tentei fazer.
3
– A trama criada em “Ponto Cego” tem um final, mas também fiquei pensando que o
enredo permite a possibilidade de uma continuação. Sinceramente, sou um pouco desconfiado com continuações e acho
isso uma ação que põe em risco a obra, mas gostaria de saber: Há planos para
continuar aquela trama ou alguma história paralela?
O “Ponto Cego” teve um fim memorável na minha cabeça. Não penso
especificamente na continuação da trama, mas já estou desenvolvendo uma segunda
história com o mesmo protagonista, que acaba se tornando um repórter
investigativo sem querer. Os dois livros serão independentes, ou seja, o leitor
não necessitará ler o “Ponto Cego” antes do próximo. Porém, é inevitável que os
personagens tragam do livro anterior algumas alterações físicas ou psicológicas.
Eu estaria criando uma história inverossímil se não fizesse isso acontecer.
4
– Como um fã de suspense também fico curioso para saber como nasceu o seu amor
pelo gênero e quais os autores que constantemente estão na sua cabeceira. Pode
compartilhar isto conosco?
Claro. Eu devia ter uns 12 anos quando ganhei de meu pai uma coleção
inteira da Agatha Christie, a dama do crime. Li tudo, fiquei fascinado. Mais
tarde, iniciei minha carreira trabalhando na televisão, mas logo vi que não
tinha o menor talento para ficar na frente das câmeras, por isso, comecei a
aprender como funcionava o mundo do entretenimento por dentro, cada vez que
participava de um programa de auditório ou novela. Isso tudo ficou encubado.
Certo dia, decidi escrever minha primeira história, que misturava thriller
policial com show-business (A Entrevista Ininterrupta, Editora Novo Século,
2008). Deu certo, o livro teve uma boa repercussão na mídia e acabei
enveredando por esta vertente da literatura policial. Pelo que eu saiba, não
tem nenhum outro autor que mistura esses dois elementos. Quanto aos autores
preferidos, eu leio muitos. Hoje, os que vem dos países nórdicos estão muito
presentes na literatura policial. Isso é muito bom, desmistifica aquela ligação
do gênero policial com a cultura americana, como vemos em filmes e publicações
noir, a literatura negra nascida na década de 40. Mas os ingleses e os
americanos ainda são imbatíveis. Edgar Allan Poe, Arthur Conan Doyle, James
Patterson, Tess Gerritsen, Dennis Lehane, Dan Bown, entre tantos. No Brasil,
destaco Mario Prata, Ruben Fonseca e Patrícia Melo.
5
– Uma coisa que sempre achei complicado é criar personagens verdadeiramente
maus e que possam capturar a atenção do leitor, afinal acho que o mal é mais
complicado de se criar na literatura, pois somos educados, ao menos na maioria
dos casos, a seguir uma moral lapidada a partir da ideia de um bem maior, logo,
para um artista, forjar o mal, simulado claro, é fugir de sua realidade e
queria saber como foi para você criar os personagens “obscuros” de seu livro
“Ponto Cego”.
Eu acho que todo autor é privilegiado. É uma das poucas profissões
na qual é possível fugir da realidade sem machucar alguém. É um pouco como
brincar de Deus. Eu digo para todos: o personagem que mais gostei de escrever
foi o “Entregador”. Ele me fascina. Criei um cara com um físico privilegiado,
uma personalidade psicótica e ainda adicionei uma arma de gosto muito pessoal para
ele (a faca Ka-bar). É um personagem cuja maldade surgiu de uma decepção
amorosa e que, a partir daí, não parou mais. Além de tudo, ele viaja pelo mundo
inteiro. É ou não é interessante? Só que a fantasia para por aí, o mal sempre
sucumbirá ao bem. Entende?
6
– Agora uma pergunta relacionada às duas anteriores. Desde que cheguei na
adolescência e comecei a refletir mais profundamente sobre o meu amor pelo
suspense e terror, uma dúvida que sempre rondou e ainda passa pela minha mente
é: Qual a razão do fascínio que temos (seja na literatura ou cinema) pelo
suspense ou terror? Para você, qual o motivo para os seres humanos procurarem
tanto algo que normalmente temem?
Eu creio que seja uma curiosidade natural do ser humano por tudo que
é obscuro. Qual o limite para que a literatura ou o cinema transmita a
realidade? Até que ponto o ser humano pode prever o que vai acontecer daqui a
um minuto? A morte deve ser realmente temida? O que vem depois dela? São apenas
algumas perguntas que não tem respostas, cada um tem a sua própria
interpretação. O bom do suspense é fazer o leitor virar a página, respirar
fundo e pensar: “Meu Deus, o que vai acontecer agora??” É isso que eu tento fazer
a cada cliff-hanger (técnica aplicada que induz o leitor a ficar sentado na
ponta da cadeira, ou “pendurado no abismo”, como diz a tradução literal).
7
– Agora, mudando um pouco o foco. Quero saber um pouco mais sobre o seu trabalho.
Quais seus próximos projetos? Poderia nos conceder uma novidade em primeira
mão? Há outro livro sendo escrito?
Eu espero escrever sempre para entreter os leitores. Eu gostaria
muito que as pessoas lessem minhas histórias e entendessem a mensagem que tento
passar no final de cada livro, mas não espero mudar a vida de ninguém. Como eu
disse antes, já preparo uma segunda obra com o mesmo protagonista. Na
literatura policial, é normal termos vários livros com o mesmo personagem (vide
Hercule Poirot, Mandrake, Alex Cross e tantos outros). Mas também tenho outros
dois projetos que pretendo entregar para a editora este ano. Ainda não posso
revelar o que é, mas será uma surpresa muito boa. Também faço parte da
República dos Escritores, uma Associação sem fins lucrativos que vem crescendo
e no qual sou um dos sete sócios fundadores. É muito bacana promover uma união
de autores. Além disso, continuo trabalhando com outros escritores, dando aulas
e assessorando-os com seus livros. Por fim, estou rodando o Brasil com minhas
palestras.
8
– Por fim, lhe cedo espaço para mandar uma mensagem aos seus fãs.
Eu agradeço imensamente cada pessoa que abre um livro para ler, seja
do meu gênero ou qualquer outro. Fico feliz pela oportunidade e dizer que estou
sempre aberto a receber mensagens de todos. Espero continuar suprindo as
expectativas de meus leitores a cada página que escrevo. Para mais informações,
acessem o meu site pessoal:
http://www.felipecolbert.com.br/. Muito
obrigado e sucesso ao blog!
Felipe,
muito obrigado mesmo pela oportunidade de entrevista-lo! Eu sou conhecido entre
meus amigos por falar muito quando me empolgo com um assunto, você percebeu
isso na resenha, mas dessa vez consegui me controlar. Abraços! Sucesso para ti!
As portas deste blog estarão sempre abertas para apoiá-lo!
Adorei a entrevista, Ed. Boas perguntas acompanhadas de ótimas respostas do Felipe. :)
ResponderExcluirTambém li MUITO Agatha Christie quando mais nova. Na verdade, todos os livros com o Pairot pois a Miss Marple era muita chata. HAHAHHAHA A Tess Gerritsen tb é muito boa. Mas não curto Dan Brown... Sir Doyle é gênio. <3
Enfim... Beijos!
Obrigado pelo comentário, Gleice. Sempre penso no que o escritor gostaria de comentar. Agatha Christie conheço pouco, contudo Edgar Allan Poe é comigo mesmo xD Sim, Tess Gerritsen acabei descobrindo depois de um comentário do Mister Grande Escritor Stephen King!
ExcluirBeijos!