Entrevista: Tatiana Mareto

Saudações, caros leitores do Policial da Biblioteca! Ultimamente as minhas leituras de autores nacionais estão muito boas. Essa "sorte" nas parcerias que estou conseguindo obviamente é consequência de uma pesquisa prévia que faço sobre o autor e o estilo de seus textos, afinal, para fazer bem algo é preciso amar e quando não se ama não se faz bem, ao menos é assim que penso. Logo, busco me aliar à autores cujo trabalho esteja em alinhamento com o meu gosto para que ambos possam se nutrir dessa relação da melhor forma possível. Seguindo o costume, quando o (a) autor (a) é nacional, lhes trago uma nova entrevista....dessa vez com a escritora Tatiana Mareto!

Tatiana Mareto

Olá, Tatiana, quero dizer que é uma honra poder trocar algumas palavras contigo. Cada mundo que desbravo em minhas leituras me faz experimentar vários pensamentos e sentimentos e as páginas de sua obra “O Segredo de Esplendora – Livro I: A Origem” me proporcionaram uma boa viagem e agora posso, enfim, dialogar sobre isto. Sinta-se à vontade para responder as perguntas e espero que aprecie a nossa conversa...

1 – Como você deve saber, pois está no mercado da literatura, histórias com anjos e vampiros estão aos montes nas estantes de livrarias, contudo de vez em quando surgem interpretações interessantes dessas criaturas, acho que este foi o caso com o seu livro, pois nele não há tanto foco na condição dos personagens em serem coisas sobrenaturais, mas em seus dilemas existenciais, problemas que qualquer um de nós poderia enfrentar (incertezas sobre nossas crenças etc). Queria saber como foi a construção disso, como foi escrever este livro?

Oi Ednelson. Sem muitas divagações, quero registrar apenas que foi um prazer firmar parceria com seu blog, e que aposto que nossa conversa agora será bastante agradável. Sobre o processo de construção desse mundo fantasioso que descrevo em O Segredo de Esplendora, devo confessar que tudo se baseou em uma história que eu já tinha escrito há alguns anos. Essa história foi a minha primeira - e única! - fanfiction sobrenatural, envolvendo seres fantásticos. Talvez essa tenha sido a diferença, eu adoro o universo fantástico, mas pouco escrevo sobre ele. Minhas personagens são sobrenaturais, mas suas realidades se assemelham muito às realidades humanas, inclusive no ambiente em que vivem. Quando decidi que escrever um livro era uma boa ideia, peguei essa fanfiction antiga como inspiração para a saga de Esplendora, implementando alguns conflitos e situações.

2 – Outra coisa que me deixou fascinando pela sua obra é que o cenário criado por você demonstra ser amplo, pois além de anjos, vampiros e bruxos, são mencionados no livro elfos, druidas, ogros, fantasmas, demônios e outras criaturas, porém poucas são as que efetivamente participam do enredo, logo gostaria de saber se você pretende focar em outras criaturas em um próximo livro ou se isso é feito em algum dos livros posteriores? Nesse primeiro o foco fica entre os anjos, bruxos, os vampiros, um pouco nos elfos e bem levemente nos ogros.

A ideia não é escrever sobre esses seres. Eles pouco aparecem. A mistura de mitologias tem a intenção de criar um cenário abrangente, apenas. O foco continua nos Anjos e Bruxos, você vai perceber que os Vampiros não necessariamente são integrantes do conflito principal. Posso afirmar que, no livro 2, o leitor é introduzido a uma trama secundária, protagonizada por personagens que vão aparecer no decorrer da narrativa, e que acabou se tornando uma trama muito estimada pelos que já tiveram a oportunidade de ler os livros 2 e 3. Mas não haverá um trabalho muito apurado com outras mitologias, esses seres servem apenas como pano de fundo para os acontecimentos.

3 – A saga de Heather realmente acaba em “O Poder”? Você não pretende escrever um quarto livro?

Já pensei nisso, mas não vai acontecer. O Poder é um livro que finaliza um ciclo, e acredito que não deixei brechas para outro livro. É possível que eu tenha interesse em escrever sobre outras personagens, mas acredito que toda história precisa acabar. O Poder acabou saindo um livro maior do que eu esperava, para que fosse possível finalizar, definitivamente, os conflitos que se iniciaram durante a história.

4 – O cenário criado em “O Segredo de Esplendora” pode ser palco ainda para mais aventuras? Acho que você criou um mar de possibilidades e confesso que seria maravilhoso saber um pouco mais sobre as suas interpretações dos seres mitológicos.

É possível, como disse antes, que Esplendora possa servir de palco para mais histórias. Existem personagens que podem ser mais exploradas, e você será apresentada a elas no livro 2. Eu planejei uma “prequel” para a trilogia, um livro que se chamaria “In the darkness”, contando as desventuras de uma das minhas personagens mais bem humoradas, o Anjo Jophiel. Mas esse projeto foi arquivado por enquanto, podendo ser retomado no ano que vem. Como estou envolvida com 2 outros livros, de tramas totalmente diferentes, decidi me desintoxicar de Esplendora um pouco antes de prosseguir com a ideia de escrever mais sobre a cidade dos Anjos.

5 – Um tema que foi muito abordado no livro, usando a Heather como meio, foi a questão da fé, não a fé em um criador (algo que sequer é mencionado no livro), mas a fé em seus pensamentos, sentimentos, objetivos etc. Pelo que notei a fé é definida como possuir um ponto sólido a partir do qual se norteia a vida, ao menos é o que fica subentendido, uma vez que ao se defrontar com o inacreditável Heather se sente perdida, mas rapidamente vai se acostumando com aquilo, passa a aceitar como verdade e começa a agir considerando o que até então não acreditava. Estou certo? Como foi para você abordar essa questão?

Você está certo. Como decidi abordar o tema dos Anjos, entendi que a fé seria um elemento fundamental na jornada de Heather. Porém tomei cuidado para não focar em um tema polêmico, que nos remete à religiosidade. A fé, para mim, está muito além da crença em um criador ou não. Ter fé é acreditar, é saber que algo existe e que algo aconterá, de forma irrestrita. Tentei criar um paradoxo em Heather, quando ela é uma cética cientista (e quem disse que cientistas, mesmo ateus, não possuem fé?) que acredita em universos paralelos, que namora as estrelas, mas que não acredita no sobrenatural. A reviravolta em suas crenças e a alteração em seus paradigmas seria o ponto chave para fazê-la crescer e evoluir como criatura.

6 – Uma coisa que achei curioso foi que antes do primeiro livro ser lançado pela editora Modo, você fez uma edição independente, confesso que achei um pouco incomum isso, pois, devido aos custos envolvidos no processo, é mais viável para o autor sair logo em busca de uma editora. Queria que você me explicasse o motivo de ter realizado esse caminho.

Eu saí em busca de uma editora. Antes de começar a escrever a história eu busquei me inteirar do mercado editorial, do que seria preciso para publicar um livro. Visitei virtualmente várias editoras e sites que auxiliam autores independentes, e levei pelo menos uns seis meses me informando sobre o sucesso que eu poderia ter na empreitada de escrever um livro. Descobri, de cara, duas coisas. Uma, eu precisava ter talento. Apenas com o talento eu conseguiria me destacar de um grupo muito grande de novos escritores que estava despontando no mercado, por conta das empresas de autopublicação (como Bookess, Clube de Autores, PerSe). Duas, eu teria muita dificuldade em conseguir uma boa editora sendo uma novata que ninguém conhecia. Eu tinha uma grande experiência em ser escritora no mundo virtual (através das fanfictions), mas era tudo uma grande brincadeira. Sem um histórico profissional, sem uma marca pessoal, eu poderia ter talento e ainda assim seria mais uma. A opção que tinha era buscar editoras por demanda, que cobrariam para publicar meu material e nele colocariam seu selo. Ou ficar sem editora. Acabei escolhendo o caminho mais difícil. Comecei a escrever e a guardar dinheiro para financiar meu projeto. Acabei escrevendo demais, fiz 3 livros quase que de uma só vez, e só tinha como financiar um deles. Ano passado eu consegui o montante necessário para uma tiragem de 500 exemplares do livro 1 - A Origem, e comecei a divulgar meu trabalho por aí. Não me arrependo de nada, porque eu faria tudo de novo (só mais bem feito rs). Eu não teria sido vista por ninguém, não teria parceiros nem ninguém interessado em mim se não fosse a minha tiragem independente, da qual tenho bastante orgulho.

7 – Uma pergunta que sempre ronda a minha cabeça ao ler o livro de alguém é: O que essa pessoa costuma ler? Então, você poderia compartilhar conosco os nomes que estão em sua estante de livros?

Ih, tenho bastante coisa. Comecei bastante jovem com os clássicos. Bem, eu lia bastante a Coleção Vagalume, mas também Jorge Amado, Machado de Assis, Shakespeare. Eu adorava Romeu e Julieta, aos 12 anos já tinha lido esse livro umas 5 vezes. Tinha as falas decoradas, hoje já devo ter esquecido. Depois passei para o mistério e o romance, tendo Agatha Christie e Sidney Sheldon como meus favoritos. Acho que já li tudo de Agatha Christie, sempre fui apaixonada pelo Hercule Poirot. Por algum tempo eu fiquei sem oportunidade de ler, apenas estudando como louca. Foi um período de 2000 até 2007, quando fiz pós graduação e mestrado, e tudo que eu lia era jurídico. A partir de 2009 voltei ao meu ritmo normal, e comecei a me encantar pelo sobrenatural. Hoje minha estante espera ansiosamente City of Lost Angels de Cassandra Clare, Rapture de Lauren Kate, Finale de Becca Fitzpatrick e Insurgent de Veronica Roth (todos em Inglês, sim, eu adoro ler no idioma original). Comecei a me inteirar dos autores nacionais, estou com Marcada a Fogo de Josy Tortaro, A Última Dama do Fogo de Marcelo Paschoalim e Rosa Imortal de Tâni Falabello na lista dos próximos que lerei. 

8 – Sabemos que você já está planejando um livro que terá o título de “Quando o Verão se For” e que será uma história romântica, mas gostaríamos de saber se no momento você está com outros projetos. Pode nos contar um pouco em primeira mão?

Além de Quando o Verão se For tenho um projeto sem nome que já passou da metade do planejado. Esse projeto sem nome também é um romance, mas envolve viagem no tempo, guerras mundiais e um mundo bem diferente daquele que conhecemos. Venho postando pedacinhos do texto no Facebook e no meu site pessoal, mas ainda não decidi se ele será enviado para editora ou se será outro projeto independente. Se eu não me policiar, começo a escrever vários livros de uma só vez e não termino, por isso estou mantendo apenas esses dois projetos por enquanto.

9 – Por último lhe cedo espaço para deixar um recado para os seus leitores.

Gostaria de dizer que espero dos leitores do Policial da Biblioteca o mesmo carinho pela literatura nacional que tem o blog. Pode parecer conversa de autor, mas existe aquele preconceito velado contra o autor nacional do gênero de fantasia. O leitor pode acreditar que nós, autores nacionais, sabemos escrever sobre seres sobrenaturais tão bem quanto os estrangeiros, e ainda adicionamos os elementos nativos da nossa língua e região. Apoie o autor nacional e incentive o crescimento da nossa literatura.

Agradeço muito pela entrevista, pelo voto de confiança ao firmar a parceria com o Policial da Biblioteca e lhe desejo muito sucesso! Que seus próximos livros venham e se lembre...já conquistou um fã disposto a lhe ajudar como leitor beta! =)

Vou contar bastante com sua ajuda! :) Grande beijo e espero que você tenha boas surpresas com o restante da saga de Esplendora.

• Leiam a minha resenha de "O Segredo de Esplendora - Livro I: A Origem"