sexta-feira, 2 de março de 2012

Resenha: Corrente Sanguínea


Capa
Sinopse: Tranquility é uma pequena cidade de veraneio que faz jus ao seu nome, o lugar perfeito para que a Dra. Claire Elliot refaça sua vida após a morte do marido. Mas o que ela não sabe é que a cidade tem uma história macabra, marcada por cimes terríveis. Quando acontecimentos do passado começam a se repetir, Dra. Claire pode ser a única esperança de impedir que essa nova onda de sangue se alastre.


Análise
A história tem como personagem central a doutora Claire Elliot, uma mulher cujo marido faleceu recentemente, vitima de linfoma.Claire tem um filho, com catorze anos, com um histórico de violência e problemas com más companhias, o clássico problema da fase tão conturbada que é a adolescência.
 Tranquility, uma pequena cidade do estado do Maine, é escolhida como um ponto a partir do qual repensar a vida e tentar recomeçar com um bom ânimo a sua existência rompendo com a atmosfera de “semi-luto” na qual Claire e seu filho estão imersos. A mudança também pretende recolocar o seu filho, Noah Elliot, nos eixos, fazendo assim com que seu comportamento agressivo esteja sob controle, mantendo-o sob o seu campo de visão de mãe super-protetora.
A cidade em que começam a residir de tão pequena chega a um nível familiar, todos se conhecem, sabem o que cada um faz ao longo do seu dia e até mesmo algumas coisas particulares são de conhecimento público.
O relacionamento entre Claire e seu filho é o retrato da relação entre pais e filhos da modernidade que se tornou tão comum. Uma relação de indiferença afetiva representada em curtos espaços de tempo de comunicabilidade. Isso a faz pensar até que medida conhece o seu primogênito que deixou de ser o seu bebezinho que ninava no seu colo para ser o garoto que estava em um nível de desenvolvimento corporal igual ao dela e em vias de crescer ainda mais.
Noah, segundo sua própria mãe, está cada vez mais parecido com seu pai. Isto dá um sentido mais amplo para o seu instinto de proteção materna, logo que os cuidados não são unicamente maternos, mas igualmente é o desespero de uma mulher em preservar a memória de seu amor, o fruto de um casamento que acabou pela morte de seu conjugue.
O livro inicia-se, como é uma marca da autora, com uma cena de tirar o fôlego, uma prévia do que iremos presenciar no ápice da trama e que páginas a frente se encaixará no quebra-cabeça.
A trama dá seus primeiros passos para o centro do enredo depois da descoberta de um fêmur com sinal de um golpe de machado. Isso conduz à investigações que revelam ainda mais incógnitas.
O chefe de Policia de Tranquility, Lincoln Kelly, que vive um casamento fracassado com Doreen, uma alcoólatra que sofre de crises de ciúme, é um homem muito empenhado em seu serviço para compensar a frustração matrimonial. Essa é uma peça que promete no tabuleiro.
A narração alterna sua perspectiva entre vários momentos de personagens que vão desde um homem com idade avançada, que sofre de lapsos de memória, que vive sozinho à uma criança que passa a perceber mudanças radicais no comportamento da irmã adolescente. Essa condução proporciona uma melhor noção do cenário e prepara o palco dos futuros eventos.
A maneira negativa como a maioria dos moradores da cidade tratam Claire, falando mal dela como um outro tipo de ser humano, uma estrangeira que em breve, quando rigoroso inverno chegar, irá embora, assim como todos os outros que tentaram estabelecerem-se ali. Esse tratamento estende-se igualmente para seus colegas de trabalho. Fica estabelecida aqui uma dúvida: será que todos escondem um segredo? Essa suspeita se fortalece após um surto de agressividade de um adolescente da cidade que é internado sob os cuidados da Drª Elliot, posteriormente desligada do paciente.
A antropologista Lucy Overlock traz uma luz para as investigações policiais, mas ao mesmo tempo gera mais perguntas que chegam a deixarem pessoas poderosas da cidade preocupadas com as revelações que ainda podem ser desenterradas. A chegada de dezenas de repórteres à cidadezinha expande ainda mais as chagas que as pessoas desejavam sarar.
Também corre entre a população o rumor de que atividades macabras e bruxaria seriam os estopins do que está ocorrendo na cidade, todavia a Drª Elliot começa a trabalhar uma linha de investigação oposta que mais alguns metros a frente dará em outra rota.
Vários acontecimentos fazem o peso da responsabilidade nas costas da Drª Elliot aumentar. Ela acaba sendo o termômetro das situações que vão se inflamando mais e mais. Claire Elliot é uma personagem de grande veracidade, palpável, qualidade demonstrada em seus momentos de instabilidade.  Essa história não segue o traço do policial durão que investiga, bata em todos os seus inimigos e termina com a mocinha bonita. Em meio à seus conflitos ela racha a camada de gelo, sua defesa afetiva, que a recobre. A escolha de uma protagonista dentro destes moldes não é um simples capricho da autora e sim uma decisão matematicamente tecida para nos brindar com uma personagem ao mesmo tempo frágil, mas capaz de enfrentar os empecilhos com a força de uma mãe viúva. Claire é uma figura feminina com seus medos, mas também sua potência.
O conflito entre Adam Delray, também médico da cidade, é o contraponto da Dra. Elliot.
A junta da cidade é a personificação do espirito da cidade, dependente do turismo e o dinheiro injetado por suas atividades paralelas, fechando-se à intervenções radicais, agindo hermeticamente, usando todos os recursos ao seu alcance e movimentando todos os seus tentáculos para se preservar tal como é. Ao mesmo tempo em que o tumulto se torna mais denso na cidade, Claire vai retirando as últimas peças de sua armadura, deixando evidente sua carência, mostrando outra perspectiva sua, bastante verossímil. A mudança de ângulo dessa personagem acompanha o fluir da narração.
O final transmite a sensação de que a o enredo foi acelerado estranhamente, como se talvez a autora estivesse correndo contra um prazo, porém não diminui drasticamente a qualidade do livro, talvez alguns leitores torçam o nariz em um primeiro momento, mas depois irão concluir que foi uma jornada prazerosa. As descrições das cenas aliadas aos ambientes esculpidos, que funcionam como extensão das emoções, formam uma beleza fotográfica meticulosa. Claire e Lincoln protagonizam as cenas que mais deixam claras essa relação emoção, local, descrição. Recomendo este livro!
Tess Gerritsen

2 comentários:

  1. Tess é ótima. Já li dois livros dela e adorei. Me interessei por esse! ;)

    Beijos

    Gleice
    @MPessoais
    www.murmuriospessoais.com

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  2. Gerritsen é muito massa. Tenho alguns livros del é cada um melhor que o outro.

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