Autor: Edilton Nunes
O senso comum está
atrelado ao conceito de compreensão do mundo, resultado de uma herança
sociocultural e de experiências de determinamos grupos sociais, incluindo-se ai
a concepção de “conhecimento” coletivo. São opiniões não conclusivas e não
fundamentadas, com base numa suposta sabedoria popular. É como se o povo, ao
acatar uma ideia especifica, estivesse plenamente certo dela, sem que para isso
precisássemos de qualquer corroborativa exterior que pudesse afirmar que tais
argumentos são irrefutáveis. Não é necessário ser especialista no assunto para
chegarmos a conclusão de que as coisas não funcionam bem assim. Usemos, como
exemplo, a recente iniciativa do Governo Federal, que em um atino repentino de
boa vontade decidiu, sem qualquer tipo de planejamento pedagógico prévio,
adquirir e distribuir 900 mil tablets para professores e alunos do ensino médio
em 57 mil escolas publicas, num programa batizado de “Inclusão Digital”. Serão,
ao todo, 600 mil tablets para professores e 300 mil para alunos. O senso comum
nos diz que tecnologia aplicada na educação é uma ótima ferramenta para o
desenvolvimento cultural dos nossos alunos. Entretanto, não podemos afirmar com
convicção que tal afirmação é verdadeira, principalmente se fugirmos dessa
esfera de opinião publica e nos atermos aos detalhes.
Em um pais onde o número
de estudantes encontra-se atualmente na casa dos 50 milhões, distribuir tablets
para 300 mil deles representa uma parcela insignificante de 0,6% de
“beneficiados” com o uso da tecnologia, o que, por si só, já representa um
problema significante, ainda que o MEC insista no fato da ação tratar-se de um
“projeto piloto” onde professores e alunos trabalharão com os aparelhos para
posteriormente disseminarem o aprendizado neles realizado. Somam-se a isso a
falta de softwares específicos para a área, a ausência de um plano pedagógico
eficiente, a escassez de preparo dos educadores para manipular os equipamentos,
além da própria usabilidade deles (encarar os tablets como como simples
“agregadores de conteudo” não mudará a situação atual da educação em nosso
país) e outros “n´s” problemas oriundos dessa distribuição. Mas a opinião
publica se importa com isso? Grande parte dela não, pois permanece atrelada ao
senso comum, à concepção de que a tecnologia é boa e que qualquer investimento
realizado através dela na área da educação será benéfico. Dessa forma os 330
milhões (valor minimo estimado em leilão) que serão destinados a compra dos
tablets e que poderiam, muito bem ser melhor aproveitados, estarão destinados a
serem, assim como tantos outros milhões ou bilhões de reais supostamente
investidos na educação, jogados pelo ralo.
São em ocasiões desse
tipo que reside a periculosidade de nos atermos ao senso comum. Quando não
desenvolvemos o minimo de senso critico próprio, limitamos nossa capacidade
intelectual e nos tornamos reféns de opiniões que, apesar de serem
compartilhadas por grande parte da sociedade, nem sempre são as corretas, ou
mesmo as melhores. A situação se agrava mais ainda, pois convivemos em um país
cujo meio educacional não estimula ou que estimula muito pouco o
desenvolvimento do senso critico. Quando estudamos no ensino fundamental/médio
aprendemos que o correto é seguir a risca os ensinamentos do livro didático,
que a maneira certa de falar e escrever é seguindo os preceitos estabelecidos
pela gramática normativa e que “pensar por si só” é sinônimo de rebeldia
desnecessária, quando sabemos que a verdade é exatamente o oposto. A amplitude
do problema não se restringe apenas ao ensino fundamental/médio. O ensino
superior também padece de problemas oriundos desse sistema de “coronelismo
acadêmico”, ainda que eles sejam um pouco mais velados. O principal exemplo
disso são as bolsas de pesquisas que são dadas visando os interesses
burocráticos e educacionais de determinadas instituições, onde os temas que não
se enquadram com os preceitos delas são simplesmente descartados por aqueles
que fornecem as bolsas, levando-nos a elaborar projetos que se enquadrem em
suas perspectivas educacionais, ainda que compartilhemos da ideia de que essas
propostas não sejam as ideais. Entretanto, indo contra todas as perspectivas
negativas, ainda temos a vantagem de que, apesar dos pesares, só dependemos de
nós mesmos para desenvolvermos senso critico e mudarmos o paradigma atual da
educação no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou? Não gostou? Comente! Sua opinião é sempre bem-vinda ;D