sexta-feira, 16 de março de 2012

O senso comum e a desconstrução do saber individual


Autor: Edilton Nunes


O senso comum está atrelado ao conceito de compreensão do mundo, resultado de uma herança sociocultural e de experiências de determinamos grupos sociais, incluindo-se ai a concepção de “conhecimento” coletivo. São opiniões não conclusivas e não fundamentadas, com base numa suposta sabedoria popular. É como se o povo, ao acatar uma ideia especifica, estivesse plenamente certo dela, sem que para isso precisássemos de qualquer corroborativa exterior que pudesse afirmar que tais argumentos são irrefutáveis. Não é necessário ser especialista no assunto para chegarmos a conclusão de que as coisas não funcionam bem assim. Usemos, como exemplo, a recente iniciativa do Governo Federal, que em um atino repentino de boa vontade decidiu, sem qualquer tipo de planejamento pedagógico prévio, adquirir e distribuir 900 mil tablets para professores e alunos do ensino médio em 57 mil escolas publicas, num programa batizado de “Inclusão Digital”. Serão, ao todo, 600 mil tablets para professores e 300 mil para alunos. O senso comum nos diz que tecnologia aplicada na educação é uma ótima ferramenta para o desenvolvimento cultural dos nossos alunos. Entretanto, não podemos afirmar com convicção que tal afirmação é verdadeira, principalmente se fugirmos dessa esfera de opinião publica e nos atermos aos detalhes.
Em um pais onde o número de estudantes encontra-se atualmente na casa dos 50 milhões, distribuir tablets para 300 mil deles representa uma parcela insignificante de 0,6% de “beneficiados” com o uso da tecnologia, o que, por si só, já representa um problema significante, ainda que o MEC insista no fato da ação tratar-se de um “projeto piloto” onde professores e alunos trabalharão com os aparelhos para posteriormente disseminarem o aprendizado neles realizado. Somam-se a isso a falta de softwares específicos para a área, a ausência de um plano pedagógico eficiente, a escassez de preparo dos educadores para manipular os equipamentos, além da própria usabilidade deles (encarar os tablets como como simples “agregadores de conteudo” não mudará a situação atual da educação em nosso país) e outros “n´s” problemas oriundos dessa distribuição. Mas a opinião publica se importa com isso? Grande parte dela não, pois permanece atrelada ao senso comum, à concepção de que a tecnologia é boa e que qualquer investimento realizado através dela na área da educação será benéfico. Dessa forma os 330 milhões (valor minimo estimado em leilão) que serão destinados a compra dos tablets e que poderiam, muito bem ser melhor aproveitados, estarão destinados a serem, assim como tantos outros milhões ou bilhões de reais supostamente investidos na educação, jogados pelo ralo.
São em ocasiões desse tipo que reside a periculosidade de nos atermos ao senso comum. Quando não desenvolvemos o minimo de senso critico próprio, limitamos nossa capacidade intelectual e nos tornamos reféns de opiniões que, apesar de serem compartilhadas por grande parte da sociedade, nem sempre são as corretas, ou mesmo as melhores. A situação se agrava mais ainda, pois convivemos em um país cujo meio educacional não estimula ou que estimula muito pouco o desenvolvimento do senso critico. Quando estudamos no ensino fundamental/médio aprendemos que o correto é seguir a risca os ensinamentos do livro didático, que a maneira certa de falar e escrever é seguindo os preceitos estabelecidos pela gramática normativa e que “pensar por si só” é sinônimo de rebeldia desnecessária, quando sabemos que a verdade é exatamente o oposto. A amplitude do problema não se restringe apenas ao ensino fundamental/médio. O ensino superior também padece de problemas oriundos desse sistema de “coronelismo acadêmico”, ainda que eles sejam um pouco mais velados. O principal exemplo disso são as bolsas de pesquisas que são dadas visando os interesses burocráticos e educacionais de determinadas instituições, onde os temas que não se enquadram com os preceitos delas são simplesmente descartados por aqueles que fornecem as bolsas, levando-nos a elaborar projetos que se enquadrem em suas perspectivas educacionais, ainda que compartilhemos da ideia de que essas propostas não sejam as ideais. Entretanto, indo contra todas as perspectivas negativas, ainda temos a vantagem de que, apesar dos pesares, só dependemos de nós mesmos para desenvolvermos senso critico e mudarmos o paradigma atual da educação no Brasil.

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