Resenha + Entrevista: Noite sem Fim

Desde o primeiro contato com o livro, me interessei. Só a sinopse já me deixou curiosa. Posso dizer que o livro me surpreendeu. Foi melhor do que imaginava e com certeza um dos melhores lidos este ano.

No começo da leitura somos recheados com mistérios. Conhecemos Martin, um garoto de quatorze anos, morador da Vila. Na Vila sempre foi noite, sempre é noite. Ela é cheia de lampiões que brilham e iluminam as ruas constantemente. A Vila é subjugada pelos Anciãos. Eles que a governam e a Lei Anciã deve ser seguida à risca. Uma das leis é que a cada seis meses um navio deve partir para o além-mar. Ele nunca retorna. Martin agora é órfão porque seu pai partiu no último navio. Ele está cercado de dúvidas: por que um navio deve partir? Por que ele nunca retorna? O que há no Além-Mar? 

Ele divide essas dúvidas com seu melhor amigo, Omar, um apaixonado pelos livros. Decidem perguntar com cuidado para alguém discreto sobre Cristóvão, o pai de Martin. Maya, amiga dos dois e a paixão de Martin, os ajuda a descobrir a pessoa correta. Martin então acaba descobrindo que seu pai teve grande importância na Vila, ele, juntamente com um amigo, montaram uma editora e publicavam livros dos moradores. Livros incríveis. Tanto que foram proibidos pelos Anciãos. Martin e seus amigos decidem então criar um clube de leitura, onde o tema dos livros são coisas que nem imaginavam.

Não só a história do livro é boa e nos prende a cada letra, os elementos nela são muito bem construídos. Um deles que gostei bastante foram as morfélias. Elas são uma espécie de serventes. Sempre mulheres rechonchudas, muito parecidas. Elas que ensinam as crianças a ler e escrever. Elas só respondem o necessário, o óbvio e ficam confusas quando algo não é feito na lógica comum. Há também o canhoneiro, sempre sentado em uma grande cadeira de madeira com um canhão voltado para o mar, os Capacetes Escuros, a polícia da Vila. Todos esses elementos deixam a leitura ainda mais gostosa e interessante.

Noite sem Fim é um livro escrito por alguém apaixonado por livros. Vemos isso conforme avançamos na história. Os livros proibidos, o clube da leitura secreto, tudo isso mostrando como a leitura pode (e é) importante para nós. Omar, amigo de Martin é apaixonado pelos livros, Maya, paixão de Martin, é filha do livreiro. Em cada parte vemos o amor pelos livros aparente e quem também sente o mesmo amor delicia-se com cada um desses aspectos.

Noite sem Fim é o primeiro livro de uma série. O final é surpreendente e me deixou muito curiosa e ansiosa para o próximo volume.

Se você é apaixonado por livros, se eles fazem parte da sua vida e tem certeza de que são muito importantes nela, Noite sem Fim com certeza alimentará essa paixão. Super recomendado.

Booktrailer

Ficha Técnica:

Editora: Tarja Editorial

Autor: Roberto Campos Pellanda

Origem: Brasileira

Ano: 2011

ISBN: 978-85-61541-41-5

Número de páginas: 299

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ENTREVISTA COM O AUTOR

O Roberto nos concedeu uma entrevista! Foi muito bom saber mais desse autor que já virei fã! Leiam:

1 – Como surgiu a ideia para escrever Noite Sem Fim?
A ideia inicial foi bem visual. Eu tinha na cabeça aquela imagem de uma cidade medieval à beira do mar onde fosse sempre noite. Via na minha frente uma rua com calçamento de pedra, iluminada pela luz amarelada de lampiões pendurados em postes.
A premissa básica de Noite sem Fim nasceu a partir daí. Depois, esta descrição passou a representar a rua do Porto, uma ambientação tão importante para a trama que é praticamente um personagem da história.
Lá no blog da série Além-mar, tem um artigo bem detalhado sobre a construção do projeto:
http://rpellanda.wordpress.com/2012/01/08/a-construcao-de-noite-sem-fim/

2 – Completando a pergunta anterior, algum autor ou situação teve influência na escrita?
Querendo ou não, o escritor sempre pega “emprestado” um pouco da alma de todos os livros que já leu.
Uma obra que foi especialmente importante para mim foi a trilogia “Fronteiras do Universo” do Philip Pullmann.

3 – Sei que o livro já tem uma continuação, você já sabe quantos livros serão? E uma outra série ou história, já tem espaço em sua mente?
O Primeiro Amanhecer (O Além-Mar #2), fecha a série.
Nossa, projetos tenho vários. Pelo menos mais uma série e um livro avulso.
O meu plano é manter a média de um romance por ano. Escritor tem que produzir e eu adoro o que faço!

4 – Você recebeu muita influência na infância para a leitura? Gosta de ler que tipo de livros?
Recebi. Tanto o estímulo de ler quanto de inventar as minhas próprias histórias. Fui estimulado a fazer as duas coisas desde muito cedo.
Gosto de ler de tudo, embora leia com maior frequência literatura fantástica.
Costumo a ler simultaneamente um livro de ficção e outro de não-ficção que trate de algum aspecto da técnica literária.

5 – Quando descobriu que gostaria de ser escritor? Alguma dica para quem quer seguir o mesmo caminho?
Sempre tive aquela paixão por inventar e contar histórias, mas o impulso de escrever de forma organizada e sistemática veio mesmo após o nascimento do meu primeiro filho.
A minha dica para quem está começando é uma só: paciência.
Não tenha pressa em publicar o seu primeiro trabalho. Dê tempo para que a sua escrita amadureça. Procure um leitor crítico; estude tudo que puder sobre técnica.
A publicação pode vir depois, mais madura e planejada.

6 – Já tem uma previsão para o lançamento de O Primeiro Amanhecer? Pode nos falar um pouco sobre ele?
O original de O Primeiro Amanhecer está pronto e já foi submetido a leitura crítica. A ideia é tentar uma publicação em agosto, na época do Fantasticon. Acho que vai dar.
O livro dois difere bastante de Noite sem Fim tanto em ritmo quanto em estratégia narrativa: teremos mais um narrador, a Maya.
A trama alterna capítulos narrados pelo Martin que está no Além-mar, e pela Maya, que ficou na Vila após a partida dos heróis do Firmamento.

7 – Tem alguma recomendação para os leitores do Policial da Biblioteca?
Leiam muito; leiam de tudo e leiam a toda hora.A leitura nos liberta e nos afasta de uma existência como a da Vila, onde a escuridão mais importante não é das coisas que os olhos não veem, mas do que somos proibidos de saber.

Agradeço ao Roberto por nos conceder essa oportunidade. Estou ansiosa para ler mais sobre a história de Martin e Maya!