Olá, amados leitores! Aqui está a segunda parte de meu conto "Mais Uma Dose". Espero que apreciem e caso queiram ler a primeira parte aqui está. Caso gostem de minha narração só peço uma pequena coisa em troca: divulguem o Policial da Biblioteca para amigos, vizinhos, conjugues etc, pois quanto mais visitantes tivermos, mais coisas legais poderemos conseguir para vocês. Boa leitura e espero que vossas mentes possam mergulhar um pouco em minhas palavras. Abraços!
Capítulo
II
Depois
que os pedaços do bilhete já estavam tomando seu rumo aleatório pelo mundo e
Diogo ter esfregado o rosto com tamanha força que em alguns pontos estavam
formados pequenas áreas de vermelhidão, passou a massagear quase
ritualisticamente as suas têmporas com as pontas dos dedos indicadores e
médios. Sua cabeça pesava muito, como se cada tentativa de assimilar as
anomalias tornasse mais difícil mantê-la levantada. Seus cotovelos ficaram
apoiados nos joelhos, onde sua calça jeans estava mais desgastada.
Um
ônibus vinha do lado esquerdo da rua, lentamente foi desacelerando até parar em
frente ao ponto. A porta traseira estava abrindo e uma mulher que possuía uma
pele que tremia a cada movimento, tamanha a sua quantidade de gordura no corpo,
estava saindo reclamando sozinha acerca do calor que estava fazendo. As
palavras ofegantes dessa mulher, que o fez imaginar uma versão obesa de Hulk
Hogan, puxaram sua atenção para o ônibus e um pouco desajeitado levantou-se,
correu até a entrada do coletivo, pois este era um dos ônibus que poderia pegar
para o seu destino, e bateu na porta para chamar a atenção do motorista. A
porta foi aberta e cumprimentando o motorista com um simples e sem muito ânimo
“Oi” foi entrando no ônibus, enquanto ele já retomava sua marcha pela selva de
pedras. Com um rápido olhar constatou que só havia mais cinco passageiros,
ainda bem já que assim haveria mais espaço entre ele e qualquer outra pessoa.
Retirou o cartão eletrônico do seu bolso direito da calça e o entregou à
cobradora que depois de algumas tentativas voltou-se para ele e disse:
—
O cartão não tem crédito – falou em tom de deboche.
—
Não tem crédito? Como? Eu coloquei crédito ontem – será que colocou mesmo?
Agora sua memória parecia vacilar como se alguém tivesse passado uma borracha
nesse exato instante no dia de ontem.
—
Não sei como senhor, mas aqui tá mostrando que não há crédito – o tom de
deboche era claríssimo agora. Pelo visto ser um pé no saco era o passatempo
favorito dessa mulher que, aliás, tinha um bigode, fato que gerou asco em
Diogo.
Depois
de pensar um pouco sobre as possíveis saídas para esse pequeno problema disse:
—
Será que poderia ficar aqui na frente mesmo? Vou descer daqui há oito pontos –
o tom de voz era extremamente paciente, todavia na verdade estava com muita
raiva do desprezo dessa mulher que parecia ver no jovem à sua frente um
marginal qualquer.
—
Tudo bem, mas só dessa vez – ao terminar de falar virou seu rosto para a parte
de trás do ônibus.
—
Muito obrigado – ‘sua vaca’ completou mentalmente.
Decidiu
ficar numa cadeira perto da janela. Como não havia trazido seus fones de ouvido
para escutar música no caminho para a livraria optou pela distração mais
simples do mundo das pessoas que costumam utilizar os transportes coletivos,
olhar pelas janelas. A rua lhe parecia um filme sendo rodado em alta
velocidade. Por um breve espaço de tempo Diogo ficou de olhos fechados devido
ao pouco sono que vinha persistindo em sua vida durante este mês, quando
começou a ficar mais desperto teve mais uma surpresa ao visualizar a rua. O que
enxergava agora era um céu escuro como piche no qual, mesmo sem nuvem alguma,
raios surgiam causando clarões que lhe gelavam a espinha e inspiravam
unicamente pensamentos sobre morte. O ar cheirava à carne decomposta e absorver
aquilo ao fazia sentir um gosto muito estranho, essa não era a palavra certa, a
palavra certa era angustiante. O ar parecia dotado do sabor de todos os fetos
abortados, todos os amores destruídos, cada suicídio cometido, cada ser humano
assassinado, cada animal morto por um capricho cruel de algum lunático em
inicio de carreira. Nossa, parecia que isto era alguma história do Poe e ele
fosse o protagonista. Depois de sentir o ar e perceber o céu olhou para a
direção das construções e viu um cenário de guerra, provavelmente depois da
queda de uma bomba poderosa. Havia carros abandonados por toda a parte, alguns
capotados e outros reduzidos a carcaças totalmente retorcidas. Os prédios,
casas e pontos comerciais estavam todos cobertos por fuligem e possuíam buracos
em suas faixadas. A pista estava com várias rachaduras. O mais estranho ainda
era o fato de não ver pessoas. Com uma varredura feita pelos seus olhos viu que
o ônibus era a única coisa nova e intacta nesse quadro pintado por algum sádico
pintor. Agora que estava concentrado no local em que estava notou que o veículo
estava parado, então com uma pequena força de vontade levantou-se e não viu ali
também qualquer outra pessoa.
Com
um esforço ainda maior de sua força de vontade, que agora brincava de cabo de guerra
com as suas pernas, começou a avançar centímetro por centímetro até a porta de
saída que estava fechada. Para ter certeza de que nenhum perigo o espreitava do
lado de fora sondou o espaço exterior mais uma vez pelas janelas. Se havia
algum perigo ainda não estava por perto ou era astuto o suficiente para se
ocultar, aguardar sua presa parar para um descanso ou se alimentar e então ‘Zaz’ o ataque rápido e as presas no
pescoço do incauto animal.
Quando
colocou os pés, que usavam all stars, em contato com o asfalto viu a fachada da
livraria à sua frente. Afinal havia outra coisa nesta ópera dedicada à morte,
decadência e aos vermes que consomem a carne de todos que tem suas pálpebras
fechadas por mãos de qualquer outra pessoa, seja algum que nutria amor ou ódio
pelo aglomerado de carne que agora esfria e endurece. Considerando sua atual
situação no esquema das coisas o mais lógico era ir ao porto-seguro que estava
gritando, com a sua própria voz como se ele fosse um daqueles mestres em
ventriloquismo. ‘venha, entre, tome um
café, compre um livro, talvez até você consiga esquecer a insanidade que está
flertando com você, fugir do bicho-papão embaixo de sua cama’. O pedido da
voz foi atendido, porém antes de entrar, viu na placa de madeira que ficava
acima da porta o nome ‘Livraria...’ o
resto não dava para ser lido, as letras estavam embaçadas, na verdade pareciam
estar brotando neste exato momento. Parecia até que tudo estava sendo
construído agora, o mundo estava nascendo lentamente como se fosse fruto de uma
mente distante dele, não somente distante, mas literalmente de outro mundo. Com
uma proximidade maior da placa conseguiu ler ‘Livraria virá-página’ com uma pequena frase abaixo ‘Livros baratos é o nosso trato’. Sim,
livros baratos eram o sedativo de que precisava nessa louca narração que estava
sendo escrito ao seu redor!
A
iluminação da livraria funcionava perfeitamente, indiferente às ruínas na
vizinhança e a falta de pessoas para comprar ou matar algumas horas folheando
algum livro ou até mesmo uma revista. As cadeiras de madeira, sem dúvida alguma
para dar uma atmosfera mais aconchegante e clássica ao espaço, estavam em seus
lugares habituais, juntas às mesas. O lugar tinha cerca de trinta metros de
comprimento e quinze de largura, os dons matemáticos nunca foi o forte de
Diogo. O lugar era organizado deveras metodicamente, várias mesas e cada mesa
com quatro cadeiras, um tapete persa na entrada, numa área, pouco depois do
tapete do lado direito, tinha um balcão singelo que era onde as pessoas poderiam
pedir um café, qualquer tipo dessa bebida tão frequentemente associada ao
hábito da leitura, ou talvez um pequeno lanche, o individuo que abriu esta
livraria deve ter pensado ‘Se vou
oferecer alimento para a alma das pessoas que por aqui transitarem, então devo
oferecer igualmente um café para que eles possam deglutir melhor as palavras e
também conceder à preços camaradas sustento para os seus corpos’, ao lado
de cada mesa ficava uma lixeira, as estantes com os livros ficavam junto às
paredes, elas eram organizado por sessões, gêneros, e cada sessão era disposta
em ordem alfabética. O balcão para pagamentos de livros ficava no fundo. Enfim,
era um verdadeiro paraíso para os admiradores da arte de criar mundos,
universos, deuses, sonhos etc. Diogo estava perdido em seus pensamentos,
observando onde estava, um lugar que parecia dotado de magia ainda mais agora,
quando teve a impressão de que alguém tinha entrado também e estava caminhando
para perto dele, mas ao dar um giro de 180º graus com o corpo soube que ninguém
além dele tinha adentrado. Estava caminhando para o balcão dos fundos quando
começou a ouvir sussurros, um som que se assemelhava à várias pessoas falando
ao mesmo tempo num tom baixíssimo, tentou determinar de onde estava vindo,
talvez fosse algum sistema de som que existisse na livraria, mas pelo que
lembrava ai não havia sistema de som, mas tão pouco havia uma cidade em ruínas
da última vez que resolveu sair do seu apartamento, então percebeu de onde
vinha o burburinho, isso era um problema dos grandes, pois as vozes vinham dos
livros de todas as estantes!
Tive o privilégio de ser o primeiro (creio eu) a publicar este trabalho do Ed. O potencial de escrita do menino é muito grande e, em breve, teremos um livro com mais contos ou até um romance de sua autoria.
ResponderExcluirCongratulations...
Sim, foi o primeiro. Rapaz, quem sabe daqui há alguns anos saia mesmo um livro de contos...
ExcluirObrigado pelo comentário.