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Autor: Jack London
Editora: L&PM POCKET
Origem: Americano
Ano: 2008
Edição: 2ª
Número de páginas: 144
Acabamento: Brochura
Sinopse: Em meio à febre do ouro, Buck, um
cão doméstico de uma família californiana, é roubado de seu ambiente e
contrabandeado para o Alasca e em sua jornada entra em contato com sua natureza
primitiva.
Análise:
"Ele estava avançando a frente da alcateia, perseguindo um animal selvagem, cuja carne era viva e saborosa; e queria matar com seus próprios dentes e molhar ao focinho até os olhos no sangue quente."
—Pág. 52.
Jack London |
Saudações,
caros leitores do Policial da Biblioteca! A resenha de hoje é sobre o livro “O
Chamado da Floresta” do escritor norte-americano Jack London. O único livro que
li dele, antes desse obviamente, foi “Caninos Brancos”. Adquiri esse livro
devido à minha profunda vontade em conhecer mais este autor de estilo tão
visceral que me conquistou pelo modo como consegue desenvolver uma história a
partir da perspectiva de um animal, símbolo de um lado nosso que às vezes
negamos, mas que sabemos que existe. Acompanhem-me por essa jornada, sigam as
pegadas de Buck e ouçam o chamado da floresta!
A
narração do livro é feita em terceira pessoa e nunca oscila para outras posições.
O narrador é como um amigo nosso que presenciou todos os acontecimentos e em um
dia qualquer resolve nos relatar a sua aventura. Apesar de o tom das palavras
ser o de alguém que não participa ativamente do desenrolar da história, os
olhos a partir do qual enxergamos são os dos lobos e os pensamentos deles servem
de medida para a intensidade do que acontece. O caráter amigo do narrador nos
deixa mais à vontade na leitura e atravessamos as páginas sem percebermos as
horas.
Uma
coisa que me deixou extremamente empolgado foi o fato de ser muito bem aliada a
descrição dos aspectos dos cenários com os sentimentos e condições pelos quais
o protagonista (Buck) passa. No início, ele vive em um local ensolarado onde a
sua existência é luxuosa e o alimento sempre farto, porém repentinamente se vê
arrebatado para uma realidade fria, assim como as terras do Alasca. Nesse novo
contexto é colocado à prova constantemente, com pouquíssimo tempo para
descansar e menos ainda em quantidade de alimento.
Os
humanos são poucos descritos ao longo do livro e a maioria tem a imagem de
indivíduos dotados de aparência maligna com vestes esfarrapadas e sujas.
Acredito que isso foi um meio utilizado pelo escritor para representar esteticamente
a degradação de caráter gerada pela ganância humana, visto que o período em que
a história acontece é a febre do ouro. A maioria dos seres humanos faz o leitor
odiá-los devido às suas condutas execráveis, para falar a verdade só consegui
perceber um humano que não odiei. O modo como o leitor é levado a se sentir em
relação aos humanos o metamorfoseia em um dos lobos da matilha e torna a
leitura ainda mais uma experiência profunda. Não há maneira de escapar da
atração das páginas uma vez que damos o primeiro passo.
A
jornada espiritual de Buck é marcada por instantes de dor profunda, tanto
psicológica, quanto física. Entretanto essa dor é fundamental para a sua
transformação e posterior evolução. A dor, assim como na nossa própria vida, assume
um papel de elemento necessário, pois quantas vezes necessitamos dela para perceber
algo que estava evidente, mas que por desatenção ou comodismo sequer
conseguimos vislumbrar? Na dor e intempéries são quando as nossas índoles são
verdadeiramente testadas, pois se vivemos sempre em uma estação de bonança,
como podemos ter certeza de que somos aquilo que dizemos ser? Ser bom quando
temos sempre o luxo ao nosso redor é muito fácil, pois ceder um pouco de nós
mesmos quando o temos em abundância é um ato de se livrar de algo que é
excessivo e não verdadeiramente uma prova de boa índole.
Buck
faz amizade com outros cães, alguns antipatizam com ele, porém a maioria o
trata com respeito e um temor que cresce conforme ele abandona o seu estilo
doméstico e entra em contato com a sua herança primitiva e desenvolve os
instintos até ficarem à flor da pele. O único membro da matilha, além do
protagonista, que chega a ter um grande destaque é Spitz, o antagonista de Buck
e personagem que serve de divisor de águas na história, pois antes dele
acompanhamos um Buck totalmente dependente de seu antigo lar e mordomias e após
seguimos as pegadas de uma criatura que passa a conhecer as suas raízes.
A
forma como Buck amadurece é evidente. Os seus primeiros passos nas terras
gélidas são hesitantes e frequentemente motivo de riso para os seus iguais,
todavia é digno de admiração como o seu andar vai se tornando firme na exata
medida em que ele se conecta com o seu espírito indomável que estava mergulhado
na letargia da vida moderna com seus utensílios que transformam os homens em
seres acomodados e mimados.
A
realeza que Buck possuía em seu antigo lar é transformada em uma supremacia
pelo instinto na medida em que as adversidades do Alasca lhe apresentam
provações. O chamado espiritual que Buck começa a escutar lhe aprimora como
cão. Seu próprio corpo parece estar mais vivo e a mais simples ação, como
correr pela neve, se torna uma experiência sensorial que afirma a vida como uma
magnífica beleza e banquete dos sentidos. Quanto mais o chamado conquista os
ouvidos de Buck, mais ele se sente acolhido em um coletivo que torna o ambiente
inóspito bem menos assustador.
Caro
leitor, você é daquele tipo de pessoa que se admira quando depois de um longo
tempo reencontra alguém e se espanta quando constata que aquela pessoa mudou
radicalmente, seja em estilo de se vestir, modo de falar ou qualquer outro
aspecto? Então, prepare-se, pois Buck sofre uma mudança completa se comparamos
o início e o fim do livro, mas pode ficar tranquilo, isso não é feito repentinamente,
mas progressivamente.
Agora
alerto, leitores, a história não é formada somente de acontecimentos felizes e
coisas que nos fazem avançar com destemor no livro. Às vezes você sentirá
receio pelo destino de alguns personagens e de vez em quando precisará fechar o
livro para recuperar seu fôlego e evitar que emoções lhe dominem demais. Jack
London sabe criar trechos de uma brutalidade avassaladora, mas também sabe
atingir o coração do leitor com palavras mais ternas, delicadas. Quando a morte
bate à nossa porta, nos tornamos um único conjunto, o conjunto dos seres
mortais. Ouvir o canto da morte gera angústia e também nos faz assumir a
possibilidade de que poderíamos estar no lugar daquele que está falecendo.
Esse
livro me fez repensar alguns conceitos, assim como imaginava que faria ao vê-lo
em uma prateleira, e em algumas passagens me imaginei abandonando aquilo a que
chamamos civilização para poder vivenciar a felicidade mais natural. A
felicidade de sentir a vida em cada um dos meus poros, sentir o ar de uma floresta
em que os sons de máquinas fossem apenas lendas, caçar a minha própria comida e
sentir o doce sabor da recompensa após um árduo trabalho de perseguição. Enfim,
também escutei o chamado da floresta! As notas de roda-pé que explicam alguns detalhes sobre os caminhos que a matilha de cães percorre e sobre as espécies de cães que aparecem no livro são muito boas e deixam o livro mais rico literalmente. Recomendo este livro! É belíssimo! Foi
uma leitura que mexeu mesmo comigo e sem dúvida alguma mexerá também com você!
Abraços e boa leitura! Até outro momento!
Nunca li Caninos Brancos, mas é cláaaaaaaaaaaassico, ne? Então, conheço ao menos a história. Interessante a perspectiva 'animal' que o autor abraça os colocando em posição humano e fazendo o contrário com os humanos. Adorei. Deve fazer com que desperte mts reflexões em nós.
ResponderExcluirParabéns pela resenha! :)
Sim, "Caninos Brancos" é tido como um dos grandes livros norte-americanos. Sim, essa maneira como ele inverte o jogo animal e ser humano é muito boa! Obrigado pelo comentário, Gleice :)
ExcluirBeijos!
Caramba, agora fiquei com muita vontade de ler o livro e por coincidência é o volume desta semana da coleção O Prazer da Leitura da Abril, acabo de escrever uma postagem sobre isso. E a versão é integral, o que chamou minha atenção. Agora com essa resenha, terei de dar um jeito de comprar o livro, porque eu adorei as impressões que você teve durante a leitura. Beijos da Leitora Viciada.
ResponderExcluirMuito bom saber que a resenha conseguiu lhe deixar muito ansiosa por esse livro :) Fico tão feliz com isso! Que bom que será o volume dessa semana! Assim você já pode comprá-lo.
ExcluirBeijos!
cara, eu estou tendo que ler esse livro para o colegio, porem nao estou achando ele muito interessante , porque a maioria da historuia conta os sofrimentoss de buck, e eu comeco a chorar . oque eu faco?
ResponderExcluirO livro é justamente isso: os relatos de uma trajetória de sofrimento de um cão doméstico até se tornar um cão ligado a sua herança genética, seu lado mais primitivo e forte. Se você parar para analisar bem, vai ver que isso é justamente o que acontece conosco algumas vezes, afinal...um pouco de sofrimento às vezes é necessário para testar nossa resistência. Termine o livro, você vai ver que ele é maravilhoso.
ExcluirMuito obrigada, terminei o livro e achei realmente espetacular Beijinhos. :)
ExcluirEstá vendo...o livro mostra como as provações do Buck acabaram levando-o para a felicidade :)
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