Um conto romântico - ou não - para vocês! Espero que gostem :3
Estava deitada em meio ao
bosque quando o vi.
Alto, robusto, moreno, um homem
apareceu como se surgisse do nada. Caminhava lentamente olhando ao redor como
se há muito não visse o sol ou as árvores ou então sentisse o cheiro matinal. O
observava ainda deitada em meio às folhas secas.
Quando o sol encontrou sua face
pude ver claramente seu rosto e prendi a respiração. Era marcado por cicatrizes
de todos os tamanhos e tipos, uma lhe cortava da boca a orelha esquerda, outra
lhe passava rente ao olho direito, outra menor sobre o queixo. Tinha várias
outras delas menores, que fui perceber somente depois. Possuía lábios
vermelhos, um rosto duro, com a barba a fazer e olhos cinzentos e profundos.
Permaneci deitada enquanto ele
se aproximava, não consegui me mexer ou falar algo para chamar a sua atenção.
Tive medo de que me visse. Ao mesmo tempo em que era um ser completamente
maravilhoso temi que não fosse humano. Poderia algo como ele, tão fora do
cenário, ser uma pessoa comum?
Então ele me encontrou em meio
às folhas. Observei sua expressão passar de calma e feliz para uma incógnita,
mas ela logo mudou para um sorriso e ouvi pela primeira vez sua voz calma e
grave:
— Olá – postou-se ao meu lado
enquanto permanecia deitada sem conseguir proferir uma palavra sequer.
— Você fala? – ele continuou.
Sentei-me retirando as folhas do cabelo. Possuía cabelos loiros ondulados e
olhos claros o que faziam as pessoas me compararem a uma boneca de porcelana. E
como eu odiava essa comparação.
— Olá – foi tudo o que consegui
dizer. Ele sorriu de novo e fez menção de querer continuar sua caminhada dentre
o bosque observando tudo ao seu redor como se tivesse nascido ali, naquele
momento. Outro temor me preencheu: não queria que ele se fosse.
— Quem é você? – perguntei e
consegui o que queria. A atenção estava de volta para mim.
— Hmm... vejamos, você pode me
chamar de Einherjar, em uma versão moderna, é claro.
— Einherjar? O que isso
significa?
— Significa que fui escolhido. Escolhido
por uma bela mulher.
— Então é casado?
Dessa vez ele gargalhou:
— Longe disso menina. Não fui
escolhido por meu exterior, mas por meu talento.
— Que talento?
— De ser um exímio assassino –
ele sorriu novamente ao proferir essas palavras e por um momento tive medo. O
que poderia fazer se ele me atacasse? Estava sozinha em um bosque longe da
civilização, não havia avisado a ninguém onde estava, porém olhei para seu
rosto e ele parecia tão calmo, tão gentil que nada fiz a não ser perguntar:
— Então você é um assassino?
Ele levantou uma sobrancelha e
percebi que ele esperava que eu corresse e gritasse, e ao imaginar tal cena foi
minha vez de sorrir.
— Qual seu nome menina?
— Amanda.
— Amanda, o que você acha de um
pequeno passeio? – ele estendeu sua mão a qual aceitei com agrado.
Caminhamos pelo bosque, de
início calados enquanto ele se deliciava com a paisagem:
— Gostou do bosque? –
perguntei.
— É maravilhoso. Há muito tempo
não via um.
— Não existem bosques de onde
vem?
— Não. Lá os bosques são de concreto.
— Então é um assassino da
cidade.
— Podemos dizer que sim.
— O que o traz aqui no interior
no meio de um bosque?
Ele me olhou e por um instante
pensei que me beijaria, mas logo desviou o olhar respondendo minha pergunta:
— É minha recompensa. O Ragnarok,
o fim do mundo, está próximo. É onde terei de lutar ao lado de meus irmãos.
— Além de assassino me parece
um tanto louco.
Ele voltou a gargalhar:
— Mas recompensa maior foi ter
encontrado tal beleza em meio a tantas outras.
Olhava-me ao dizer tais
palavras e enrubesci. Ele acariciou meu rosto e senti que se aproximava. Tocou
levemente meu queixo, conduzindo meus lábios em direção aos seus. Então o
beijei. E apesar de pensar que ele seria rude, seus lábios se mostraram macios
e o beijo me envolveu fazendo-me esquecer minha vida conturbada e imaginar como
seria parar tudo, ali naquele instante.
Quando vi seu sorriso mais uma
vez percebi que estava apaixonada. Era ridículo dizer-se apaixonada por um
homem que acabei de conhecer e que se dizia um assassino, mas, ao mesmo tempo,
era ridículo não se apaixonar.
— Sinto que você é um presente
de Odin. Encontrar-lhe antes de uma batalha tão sangrenta não pode ser nada
além de um presente.
Pouco entendi do que disse, mas
concordei com um aceno.
Senti que suas mãos acariciavam
meu corpo e gemi.
Estava prestes a me entregar
para um homem do qual não sabia o verdadeiro nome, que dizia ter de participar
de uma batalha sangrenta. Um homem que nunca vi antes em meio aquela cidade
pequena. Tantos outros neguei o que aquele homem estava por ganhar.
Deitei-me novamente na grama e
ele me acompanhou. Acariciou levemente meus seios enquanto retirava minha
blusa. Os beijou enquanto eu respirava ofegante. E quando me penetrou todas as
coisas foram esquecidas e me entreguei completamente.
No final, não sabia quantas
horas permanecemos ali, deitados num ritmo constante enquanto fazíamos algo que
não podia ter outro nome além de amor.
Percebi que já era tarde e meus
avôs poderiam vir ao bosque me procurar. Levantei-me e me vesti enquanto o
Einherjar observava-me.
— Tenho de ir, mas, você vai
estar aqui amanhã?
— Veremos – disse ainda
sorrindo e por mais que estivesse com grande medo de nunca mais vê-lo, soube,
senti que o veria novamente.
Caminhei para casa com um
sorriso no rosto enquanto cantava claramente feliz.
Cheguei por volta da hora do
almoço e sabia que teria problemas, pois havia saído antes mesmo do desjejum.
Se ainda vivesse com meus pais, não estaria preocupada, porém eles estavam
mortos, infelizmente, e me foi reservado o destino de viver com os pais de
minha mãe.
Minha avó já estava parada do
lado de fora certamente me aguardando. Ela costumava bater-me, mesmo com meus
dezenove anos. Achava que fui criada porcamente e precisava de correção. Como
esperado, ela carregava uma vara afiada em uma das mãos.
Ao ver-me fechou a cara e
caminhou em minha direção, a vara em punho:
— Onde estavas?
— Fui ao bosque pela manhã e
deitei-me para apreciar o céu. Acabei por cochilar.
Ela aproximou-se ainda mais e
percebi que procurava algo, qualquer coisa para ter motivo de fazer-me mau.
— De quem é este perfume? Sei
que não é seu.
— Que perfume? – mas ao fingir
que não sabia ela acertou meu rosto com a vara.
— Não tente me enganar! Você
estava com um homem, não estava? Eu sabia que não foi criada direito, que se
tornaria uma prostituta!
E então me bateu novamente
dessa vez nos braços. Aguardei que ela terminasse, enquanto tentava não chorar,
pois sabia que era exatamente isso que queria.
Vi que meu avô chegava e
olhava-nos, mas nada fez.
Senti um ímpeto de agarrar a
vara e quebrá-la, ou pior, de revidar, mas tinha medo do que isso poderia
causar.
Depois de tudo, fui para o meu
quarto sem ter direito ao almoço.
No dia seguinte acordei antes
de todos e roubei alguns pães na cozinha. Encaminhei-me ao bosque rapidamente.
Chegando lá, nada encontrei e o desespero me preencheu, mas logo senti que
alguém se aproximava e ao virar deparei-me com o homem sorrindo. Sorri de volta
e corri para seus braços.
Conversamos durante muito tempo
em meio ás carícias. E depois, quando estávamos nus, perguntou-me sobre as
marcas, o que me fez mentir. Soube que não tinha acreditado, mas não gostaria
que soubesse da verdade.
Antes de nos despedirmos ele
comentou:
— Amanda, se nosso encontro lhe
causa problemas, não acha melhor pararmos?
O abracei dizendo-lhe que
estava tudo bem e abraçou-me de volta.
Não me impressionou a visão de
minha avó com a mesma vara em mãos quando cheguei a casa.
Odiava-os, meus avôs. Não tinha
qualquer sentimento em relação a eles, para mim, nada significavam. Decidi que
no próximo encontro não voltaria, iria embora com o Einherjar para onde quer
que fosse.
Na outra manhã, a velha
acordara cedo com o intuito de vigiar-me. Porém era lenta e cansada e consegui
escapar facilmente. Saí de casa com o pensamento de nunca voltar.
Encontrei meu amor no mesmo
lugar de sempre. Sorrindo. Aguardando-me. Deitamo-nos e fizemos amor no mesmo
ritmo calmo e acalentador.
Ainda nua, deitei em seus
braços suados sentindo sua respiração:
— Sabe, os Einherjar batalham
durante o dia, treinando para a batalha contra Loki e seus gigantes
repugnantes. Durante a noite, nossos ferimentos são curados. Porém nada poderá
curar a dor que sentirei em lhe deixar.
Ao ouvir aquilo senti tal
aperto no peito que pensei que não poderia respirar.
— Você irá embora? – o olhei e
vi pela primeira vez em seu rosto a tristeza.
— Tenho de ir Amanda. Os dias
que passei com sua presença foram um presente. Porém, agora tenho de ir.
— Oh, por favor, não vá, e se
for, leve-me com você – senti as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Amanda, não poderia dizer-lhe
que te amo se a levasse comigo. O destino que carrego é sangrento e cruel.
— Nunca mais hei de vê-lo?
— Acredito que encontrará
comigo novamente no palácio de Odin, Valhala. Carregas uma beleza única que
nunca vi em uma humana, desconfio que tenha sangue de Valquíria. Sendo assim,
encontraremo-nos novamente e ficaremos juntos, para sempre.
Tais palavras não me consolaram
e continuei a chorar.
Ele secou minhas lágrimas e me
abraçou enquanto cantava uma música em uma língua que não conhecia, porém não
precisava entender o que dizia para saber que era uma canção de tristeza e
sofrimento.
Envolvida pela canção e pelo
choro, dormi em seus braços.
Quando despertei estava mais
uma vez sozinha, deitada em meio ao bosque como se nada tivesse acontecido,
como se tudo não passasse de um sonho. A única coisa que me fazia ter certeza
de tudo fora real era o fato de ainda estar nua.
Vesti-me calmamente enquanto o
sol se despedia. Ainda pude sentir seu cheiro em meio ás minhas roupas e
chorei. Chorei desesperadamente como se me tivessem arrancado uma parte de mim,
como se ao se for, ele tivesse levado consigo meu coração. Caminhei de volta a
casa em meio aos prantos.
Quando estava próxima,
lembrei-me da promessa feita a mim mesma de nunca mais voltar. Por um momento
pensei em fugir, em viver uma vida proscrita. Mas o que faria? O Einherjar era
tudo que tinha, o único homem que amei e agora ele se fora com a promessa de
nunca mais retornar, pelo menos, não nessa vida. Decidi retornar para casa e lá
decidir o que fazer.
A velha senhora estava em seu
posto, aguardando-me com a arma em mãos. Sentia-me fraca. Nada havia comido e o
sol já se despedia. Porém não associei a fraqueza com a falta de comida, tudo o
que sentia falta era do Einherjar.
Teria de vê-lo novamente, nem
que fosse só por uma vez.
Minha avó a me ver chorar não
hesitou em ralhar comigo por sumir durante o dia inteiro. Ao ver aquela velha
reclamar e gritar, sem ouvir absolutamente nada, soube de imediato o que fazer
para vê-lo novamente.
Entrei pela sala enquanto ela seguia-me
ralhando comigo. Acertou-me ás costas com a vara verde e neste instante vi a
pá, instrumento de trabalho de meu avô, encostada no canto. Peguei-a enquanto a
velha tentava fazer com que minha atenção fosse voltada a ela novamente
acertando-me mais uma vez.
Que barulho sublime foi o do
metal contra o osso!
Acertei-lhe a cabeça enquanto
ela ainda falava. Caiu no chão em meio a convulsões e então lhe acertei
novamente no rosto. Não sei dizer quantas vezes repeti o mesmo ato, mas quando
terminei ninguém poderia reconhecer a velha senhora irritante. Se ela gostava
de marcar-me com as varadas, posso garantir que a marquei muito mais.
Percebi que alguém me
observava.
Na porta, parado em estado de
choque, estava meu avô. Ele tentou correr, mas, coitado, estava velho e eu o
alcancei sem dificuldades. O acertei pelas costas com o mesmo instrumento que
ele machucava a terra e ele chorou, implorou pela vida.
Posso dizer que nunca vi ação
tão bela.
Quebrei-lhe o braço com a pá e
me excitava em ouvir seus gritos. Quando o segundo braço foi quebrado ele
desmaiou em meio à dor. Matei-o da mesma forma que a esposa, lhe deformando o
rosto, observando os dentes que ainda restavam voarem a cada pancada, o sangue
saindo em monte, como se estivesse aflito por liberdade.
Vendo aquele maravilhoso
líquido escarlate sabia que não era o suficiente. Ainda não me sentia
satisfeita. Recolhi a pá e desci a colina.
O primeiro que encontrei foi um
trabalhador, de início tinha a expressão feliz, mas logo o horror tomou conta
de seu rosto, pois se deparou com meu vestido manchado com o vermelho vivo e a
pá com a mesma cor em minhas mãos. Era claramente um fazendeiro, provavelmente
voltando para casa. Chegou a cumprimentar-me, receoso. Acho que me conhecia, deve
ter dito algo idiota como: “Você está bem?” Porém não o escutei ou reconheci.
De qualquer forma, não importava. Derrubei-o com pá com o impacto na cabeça. Ao
contrário da velha fraca este não sofreu convulsões, apenas parecia um tanto
tonto. Aproveitei da lerdeza e perfurei seu pescoço com a pá. Não era um bom
instrumento de corte, portanto tive que acertá-lo muitas vezes até decapitá-lo.
Acredito que não sofreu muito, pois logo desmaiou o que era uma pena.
Descobri que me deliciava com o
sofrimento alheio.
Estava indo em direção
contrária à cidade, porém existiam algumas casas isoladas, com seus fazendeiros
e família com a vida simples e sem graça. Chegando a uma dessas casas encontrei
uma criança. Ela pareceu mais curiosa do que assustada em ver-me. Foi a
primeira e última vítima que tive receio de fazer mau, porém não poderia
poupá-la. Não se quisesse cumprir meu objetivo. Acertei-a nas pernas a
derrubando. Ela chorou e gritou pela mãe. Que som maravilhoso!
Ouvi movimentos na casa próxima
e percebi que uma mulher aproximava-se horrorizada. Vinha correndo salvar o
filho. Tola. Ataquei-a no rosto para que parasse de gritar. Foi esperta e
conseguiu escapar não recebendo todo o impacto, porém foi o suficiente para
deixá-la sem reação por algum tempo. Quebrei-lhe as pernas enquanto a criança
gritava. Não sabia ela que os seus gritos não faziam nada além de dar-me forças
para continuar? Deixei-a quase inconsciente, e caminhei em direção a criança.
Ela gritou pela mãe, pelo pai e pediu-me um favor: para não matá-la. Não podia
concedê-lo – respondi – necessitava do sangue dele em minhas mãos. De início ele
continuou a gritar enquanto lhe esquartejava da melhor maneira possível com um
instrumento como aquele, mas diante da dor, logo parou e tenho a impressão de
que não sofreu o suficiente. Talvez o fato de ainda ser uma criança tenha feito
que Deus tivesse misericórdia de sua alma. Porém isso não era da minha conta,
não acreditava em Deus de qualquer forma.
A mãe ainda estava viva, com a
boca sangrando balbuciava algo que não podia entender e também chorava. Havia
matado sua preciosa criança. Sentei-me a sua frente por um tempo, observando
calmamente sua expressão de horror, sofrimento, ódio todos aqueles sentimentos
guardados naquele olhar que desejava matar-me, assim como fiz com seu filho.
Esperei sentada pensando que
mais alguém chegaria, mas acabei por acreditar que o marido, o pai da criança,
era o homem que havia matado no caminho mais cedo. Levantei-me e movida de
misericórdia matei-a. De nada adiantava continuar viva. Não havia perdido tudo
o que amava?
Lembrei-me do Einherjar e
voltei a chorar. Adentrei a casa de minhas vítimas e lá me sentei em sua
espera.
O Einherjar fora escolhido por
ser um ilustre assassino. Agora eu havia me tornado uma. Poderia ser buscada e
levada para junto dele novamente.
Porque, que motivo teria para viver além daquele de sentir sua pele
novamente, de ver o seu sorriso e sentir seus lábios junto aos meus?
Sentei-me aguardando a bela
mulher a me buscar, assim como havia dito. Tinha certeza que seria escolhida.
Nunca fizera algo de tão belo na vida.
Aguardei calmamente enquanto me
deliciava com o cheiro de sangue em minhas roupas.
---
Naquele mesmo instante, há
alguns quilômetros a oeste, a cidade amontoava-se em frente à TV para ver a
prisão e execução de um dos maiores assassinos da história. Havia fugido do
hospício em que fora internado e voltado por conta própria dizendo que estava
pronto para o Ragnarok. Todos observaram o grande homem, com várias cicatrizes
pelo rosto, entregando-se calmamente e sendo capturado
por policiais afoitos e assustados.
O homem que havia assassinado
46 mulheres enquanto caminhava de cidade em cidade, estado a estado. Porém
estava feliz em ter encontrado o que sempre procurou: uma filha de Freya.
Aceitou de bom grado a morte e
seu último pensamento foi que logo se encontraria com Odin e lutaria ao seu
lado no inferno, no fim do mundo, juntamente com seus irmãos, os Einherjar.
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Dois dias passaram-se até que
dessem falta dos velhos que viviam na casa da colina. Alguns homens foram em
sua procura e encontraram os corpos cobertos com moscas em fase de putrefação. A
cidade nunca vira tamanha atrocidade e alguns deles vomitaram diante dos
mortos. Faltavam-lhes alguns pedaços, comidos por cachorros e animais selvagens
famintos.
Os mais bravos e com estômago
mais forte seguiram uma pequena e quase nula trilha de sangue seco. Elas
levavam a mais um morto com estágio de putrefação como os outros, porém ao
chegar à casa do fazendeiro, até mesmo os homens mais bravos beiraram a
insanidade.
Que animal, que monstro poderia
ter feito tal atrocidade com uma criança e sua mãe?
Estes corpos também estavam com
algumas partes faltantes, porém diferente. Não foram feitos por dentes de um
animal selvagem, mas por um objeto cortante.
Acabaram por descobrir que a
menina, tão bonita, comparada a um anjo por todos na cidade, havia cortado
partes do corpo de suas vítimas e as comido.
Acreditava que se alimentando
da carne que ferira, teria mais chances de ser levada para seu amado com mais
rapidez.
Acharam-na em meio à sala,
sentada ao chão, imunda, com os cabelos que costumavam ter um cacheado ouro perfeitos,
completamente desgrenhados. Parecia catatônica, mas ao tentarem levantá-la,
perceberam, tarde de mais, que ainda carregava consigo a faca usada para partir
pedaços dos mortos, que usara para alimentar-se como alguém que prepara bifes
para a janta.
Matou o homem que a ajudava tão
rapidamente que nada puderam fazer. Cortou-lhe a jugular e foi manchada mais
uma vez com o sangue. Mataria quanto mais pudesse, quantos fossem necessários.
Os dois homens restantes,
receosos e religiosos, não se atreveram a aproximar-se novamente da menina.
Acreditaram que era uma bruxa ou que simplesmente fora tomada pelo maligno.
Procuraram pela casa, atentos a
qualquer sombra e ruído, por óleo de lamparina. Todas as casas na cidade
possuíam um estoque e tiveram sorte, o estoque desta estava no máximo.
Preencheram a casa com óleo
enquanto a menina nada fez. Apenas permanecia sentada, aguardando.
Atearam fogo á casa e lhe deram
a morte que toda bruxa merecia.
---
Os malditos. Atearam fogo a
casa. Mas do que adianta levantar-me e lutar? Se for dessa maneira que devo me
encontrar com o Einherjar, que assim seja. Não irei fazer menção de levantar e
correr. Percebo que não me importo com a dor em meu corpo. Nada pode se
comparar a dor pela falta do Einherjar. Deito-me e aguardo as chamas tomarem
conta de mim.
---
Aguardaram do lado de fora,
prontos para defenderem-se caso a garota saísse em seu encalço, porém nada
aconteceu. Não houve gritos e muito menos perseguições. Ela apenas aceitara a
morte. Talvez, no final, arrependida de seus atos. Fizeram o sinal da cruz e
voltaram á cidade.
---
Amanda permaneceu deitada por
dias, semanas, como lhe pareceu. No começo a dor a açoitou, mas logo se foi.
Quando se achou preparada, abriu os olhos e o que viu fez seu coração saltar.
O Einherjar. Estava de volta e
sorria para ela.
Sorriu de volta e levantou-se,
aninhando-se em seu abraço.
— Sabia que você viria meu amor.
— Quanta falta senti!
— Oh, eu também minha querida.
Porém não podemos comemorar agora. Não ainda. Percebes que ainda estamos em
batalha, em meio ao Ragnarok.
Amanda olhou ao redor e tudo o
que viu foi sofrimento, dor, desespero e aflição continuamente, mas não se
importou.
Acenou positivamente ao
Einherjar e ele a tomou pelas mãos e caminharam juntos em meio ao sofrimento.
Havia conseguido. Fora escolhida
e por mais que estivesse no inferno, não se importava, pois ao seu lado
mantinha o homem que amava. O que chamava a si próprio de Einherjar.
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