Eita! O Policial voltou? Então, sim e não. Como vocês sabem, passamos a publicar no Leitor Cabuloso e já tem um tempinho, mas existem algumas resenhas que não posso publicar no site pelo motivo de que alguém já publicou. Então aqui estarão as resenhas que não cabem no Leitor Cabuloso. Mas vamos lá!
E
vamos a resenha de um livro que fala de Jesus Cristo escrito por um
ateu. Só com isso já dá pra saber que é um livro que trata Jesus como
completo humano e que é irônico e crítico em muitas coisas.
O
livro conta a história de Jesus Cristo desde a concepção que é feita
naturalmente até a sua crucificação, porém a história diverge da bíblia
em vários pontos. Uma das coisas que me chamou a atenção foi a questão
de costumes da época e um deles é o da mulher não ter nenhum significado
ou valor naquela sociedade.
"Ao contrário de José, seu marido, Maria não é piedosa nem justa, porém não é sua a culpa dessas mazelas morais, a culpa é da língua que fala, senão dos homens que a inventaram, pois nela as palavras justo e piedoso, simplesmente, não têm feminino"
Outro
ponto e esse pode revoltar os cristãos mais fanáticos é que Deus é um
completo... troll. Saramago toca muito na questão do Deus do Velho
Testamento ser tão diferente do Novo Testamento. O Deus "velho" era o
Deus dos Exércitos, que prometia vingança, morte, matava crianças,
dizimava povos, além disso pedia sacrifício de um animal branco, puro e
sem marca. Já os Deus "novo" deixou tudo isso para trás, é o Deus de
Amor e ainda despreza tais atos. Saramago coloca Jesus como o autor
desse novo Deus.
"O cutelo subiu, tomou o ângulo do golpe, e caiu velozmente com o machado das execuções ou a guilhotina que ainda falta inventar. A ovelha não soltou um som, apenas se ouviu, Ahhh, era Deus suspirando de satisfação."
Como
já citei, Saramago conta a história de um Jesus completamente humano,
que tem desejos, ambições, sente raiva e amor. Não é puro ou santo e não
foi escolhido por Deus, foi usado por ele. O mesmo se vê em Maria e
agora isso pode revoltar também os católicos fervorosos, como na
conversa abaixo com um anjo.
"— Então, o Senhor não me escolheu.— Qual quê, o Senhor só ia a passar, quem estivesse a olhar tê-lo-ia percebido pela cor do céu, mas reparou que tu e José eram gente robusta e saudável, e então, se ainda te lembras, se como essas necessidades se manifestam, apeteceu-lhe, o resultado foi, nove meses depois, Jesus"
É
um livro muito interessante que toca em bastantes, vamos dizer, feridas
dos cristãos. Saramago tira e acrescenta várias passagens da história
de Jesus e em várias delas há o tom irônico que coloca Deus e o diabo em
patamares parecidos. Recomendo o livro, mas somente para aqueles que
não são muito próximos de nenhuma religião que adora Jesus.
"— Então, servi-vos dos homens.— Sim, meu filho, o homem é pau para toda colher, desde que nasce até que morre está sempre disposto a obedecer, mandam-no para ali, e ele vai, dizem-lhe que pare, e ele para, ordenam-lhe que volte para trás, e ele recua, o homem, tanto na paz quanto na guerra, falando em termos gerais, é a melhor coisa que podia ter sucedido aos deuses.— E o pau de que fui feito, sendo homem, para que colher vai servir, sendo seu filho?— Serás a colher que eu mergulharei na humanidade para a retirar cheia dos homens que acreditarão no deus novo em que vou me tornar.— Cheia de homens, para os devorares.— Não precisa que eu o devore, quem a si mesmo devorará."
Ficha Técnica:
Editora: Companhia de Bolso
Autor: José Saramago
Origem: Portuguesa
Ano: 2005
Número de páginas: 374
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